CARANDIRU MANTIDO: VITÓRIA DO BOM SENSO - OPINIÃO

Afanasio Jazadji*
27/03/2002 18:32

Compartilhar:


Não podemos aceitar, sob qualquer hipótese, as reclamações de determinados "especialistas" contra a decisão do governador Geraldo Alckmin de suspender a demolição da Casa de Detenção, no Carandiru. Na verdade, a atitude de Alckmin significa uma vitória do bom senso.

Tenho defendido, há meses, a necessidade de o governo do Estado de São Paulo voltar atrás em seu anunciado plano de acabar com a Detenção. Mesmo com a construção de novas cadeias no Interior, é necessário manter esse complexo prisional, que apenas precisa de uma reforma, inclusive com a instalação de mecanismos contra tentativas de fuga de presos. Como deputado estadual, apresentei projeto de lei na Assembléia Legislativa propondo que uma parte da Casa de Detenção seja adaptada para se tornar um centro de prevenção contra as drogas e de tratamento de drogados. Os outros pavilhões, de construção sólida, podem e devem ser preservados.

Assim, não procedem as críticas contra o governador Alckmin, por ter mudado seus planos. Ao reformular projetos, ele demonstra eficiência e independência, evitando curvar-se às pressões do governo federal, que, por meio do Ministério da Justiça, impunha o fim da Detenção. Aqueles tradicionais "especialistas", demagogos, defensores dos direitos humanos de criminosos, exigiam a demolição dos pavilhões.

Prevaleceu o bom senso. Por enquanto, a demolição está apenas suspensa. No futuro, será cancelada, uma vez que não existe outra saída a não ser manter tal complexo prisional, mesmo porque as delegacias estão lotadas de presos, fruto do crescimento da violência e da criminalidade em nosso Estado nos últimos anos.

Um ano atrás, logo após aquele grande motim de 18 de fevereiro, que agitou simultaneamente quase 30 cadeias paulistas, mantive contato com o governador Alckmin, a quem apresentei uma lista de sugestões para tornar os presídios mais seguros, diante da incrível violência provocada pela facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC). Na época, forneci as propostas com a única intenção de colaborar para o fim do domínio das cadeias por parte do PCC. Tal situação de verdadeiro caos havia sido criada por causa da falta de atitudes concretas em sete anos de gestão de Mário Covas e seus frágeis assessores nas secretarias da Segurança Pública e da Administração Penitenciária.

Minhas sugestões para o atual governador foram baseadas na experiência de deputado estadual, como presidente da CPI da Assembléia Legislativa que investigou o crime organizado no Estado de São Paulo de 1995 a 1999. Argumentei que preso teria de ser tratado como preso, sem as regalias que acabavam garantindo a introdução de armas e de telefones celulares nos presídios. Não se pode negar que Alckmin vem tentando atenuar o problema da criminalidade. Para começar, ele trocou o antigo secretário da Segurança Pública, Marco Vinicio Petrelluzzi, por alguém que já mostra mais capacidade, o jovem promotor Saulo de Castro Abreu Filho. Falta mexer na pasta da Administração Penitenciária, onde o secretário Nagashi Furukawa, excessivamente teórico, curva-se diante do PCC.

Estão sendo concluídas e inauguradas novas cadeias no Interior, mas faltam funcionários para cuidar desses estabelecimentos. Seria o mesmo que lançar novas linhas do metrô sem ter condutores para pôr os trens em movimento. Por essa e por outras, é que se conclui: o Carandiru não será demolido em abril e nem em julho. Ele precisa existir.

Afanasio Jazadji é radialista, advogado e deputado estadual pelo PFL

alesp