Nunca tive dúvidas, e duvido que alguém as tivesse, sobre o fato de que o professor Delúbio Soares é o que se pode chamar de "homem certo no lugar certo". Ao menos para o Partido dos Trabalhadores, do qual é tesoureiro. Embora esteja há tempos bem longe das salas de aula, é largamente conhecida sua habilidade nas quatro operações da Matemática. Pelo que se ouve, é um "ás" na arte de subtrair, somar, dividir e multiplicar. E faz o que faz e também o que o deputado Roberto Jefferson, presidente do PTB, garante que ele faz em nome de um projeto de poder: prolongar a estadia de Luiz Inácio Lula da Silva na Presidência da República por mais uma temporada.Ao se tomar como verdadeiras as declarações do deputado, a quem o próprio presidente disse que daria um cheque em branco e assinado sem perder o sono, o professor Delúbio Soares é adepto do "é dando o que é dos outros que se recebe o que não nos pertence".Ele seria uma espécie de operador-mor do mensalão " uma mesada que renderia, segundo o deputado Jefferson " ele próprio sob o fogo cruzado por conta das lambanças promovidas por pessoas de sua confiança nos Correios, Instituto Brasileiro de Resseguros etc. ", algo em torno de R$ 30 mil a vários parlamentares da base de sustentação do governo no Congresso. A paradeira que hoje ali se verifica, portanto, seria resultante da suspensão dos pagamentos mensais, combinada com o desejo frustrado de que a mesada saltasse para R$ 50 mil. É evidente que nem o mais ingênuo dos seres é capaz de acreditar que o professor Delúbio Soares, caso as denúncias venham a ser confirmadas, tenha agido sozinho, por sua própria conta e risco. Trata-se de homem de partido, da mais absoluta confiança dos cardeais do PT. Entende-se, agora, o empenho do governo Lula para abafar a CPI dos Correios e toda e qualquer tentativa de se apurar o que quer que seja em sua seara.O desespero é tanto que o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, foi escalado para ingressar a tropa de choque do abafa petista. E o que tem a dizer o ministro da Arrogância, ou melhor, da Casa Civil, José Dirceu sobre o caso, do qual, a se dar crédito às afirmações de Jefferson, ele sempre teve conhecimento?Segundo Jefferson, o presidente Lula teria chorado ao saber do desembaraço do professor e companheiro Delúbio Soares. O ministro José Dirceu, por sua vez, teria dado um soco na mesa, mas nada fez para pôr um fim na safadeza. Ora, choros, bicos e socos não resolvem. Não servem, por exemplo, para responder a uma pergunta básica: de onde o tesoureiro do PT subtraía tanto dinheiro para distribuir entre aliados? De que tetas generosas jorravam o leite e o mel que alimentavam os recém-convertidos ao petismo?Tempo atrás, por conta do noticiário, cheguei a me preocupar com a saúde do professor. O que se pôde ler é que ele trabalhava para fumar. Sim, trabalhava só para fumar. O salário de cerca de R$ 6 mil lhe permitia apenas e tão-somente consumir os famosos charutos Cohiba, dos quais, dizem, não se separa. A serem confirmadas as denúncias feitas pelo deputado do PTB, fumar não é, infelizmente, o único vício do professor Delúbio. *Milton Flávio (PSDB) é vice-líder do governo na Assembléia Legislativa de São Paulo.