DIA DA MULHER - POUCO A COMEMORAR - OPINIÃO

Edir Sales*
08/03/2001 18:50

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Estamos sempre ouvindo discursos, alguns deles inflamados, sobre o progresso das conquistas femininas. O tema não deve levar a uma euforia desproporcional à realidade. Não podemos negar, é evidente, que há uma participação bem maior das mulheres nos órgãos de decisão da administração pública no país. Mas também não podemos deixar de reconhecer que os avanços são poucos, tímidos e lentos.

Um exemplo disso é a participação da mulher na política, baixíssima em relação a dos homens. Seja por desinteresse das próprias mulheres ou por falta de informação sobre isso. Na Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo, são apenas oito deputadas de um total de 94 parlamentares; na Câmara Municipal de São Paulo, apenas cinco vereadoras estão entre os 55 eleitos; em Brasília, o número de deputadas federais é inferior a 6% do total.

Não se pode culpar a legislação, que prevê tratamento igual para homens e mulheres. Na prática, porém, ainda se constatam casos de diferenças salariais e tratamentos preconceituosos e discriminatórios em relação à mulher que exerce, e muito bem, profissão considerada exclusiva do universo masculino.

A diferenciação é tão grande que a nomeação da primeira mulher, Ellen Gracie, para uma vaga no Supremo Tribunal Federal teve repercussão imensa em todo o país.

A mulher avançou, e muito, no campo profissional. Houve um aumento significativo do número de mulheres na Polícia Civil, na Magistratura, no Ministério Público e em outros postos antes ocupados predominantemente por homens. A Polícia Militar de nosso Estado tem no comando de uma companhia na Zona Sul da Capital a coronel Laudinea Pessan de Oliveira, que dirige com eficiência um contingente de aproximadamente 3.000 homens

A mulher, no entanto, ainda é submetida a atos inaceitáveis de violência sexual e doméstica. Com tristeza ainda assistimos casos de mulheres assassinadas em nome do amor, como a jornalista Sandra Gomide, morta pelo jornalista Pimenta Neves.

Mutilação feminina ou perda de direitos básicos de mulheres são atos praticados pelo próprio governo, como o do Afeganistão, onde elas também são proibidas de rir alto, usar maquiagem e cantar. E os demais governos do mundo toleram isso.

A obtenção do espaço e do reconhecimento pela mulher vem na medida da conscientização de seus direitos e no especial cuidado na educação das crianças, pois as desigualdades de hoje são seguramente fruto de uma educação diferenciada entre filhos e filhas. A educação do filho era voltada para a vida profissional e a da filha para a organização do lar.

Sem alterar a essência feminina, sem modificar o seu modo de ser, sem discriminações ou rivalidades, as mulheres devem continuar lutando por seus direitos, não contra os homens, mas para com eles compartilhar responsabilidades e conquistas.

*Edir Sales é radialista, educadora e deputada estadual pelo PL

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