O DESATINO DA RAPAZIADA - OPINIÃO

Milton Flávio*
07/05/2001 18:49

Compartilhar:


Dias atrás, participei de um debate acalorado na TV Assembléia. O que me chamou a atenção não foi a irreverência nem os chavões repetidos à exaustão por dois representantes de movimentos estudantis do Estado. O que mais me impressionou - embora não me tenha surpreendido - foi a sua defesa cega do corporativismo, mascarada por uma suposta preocupação com os destinos nacionais e da juventude, em particular.

O tema em questão era um projeto de lei de minha autoria que amplia a possibilidade de estudantes pagarem meia-entrada em eventos esportivos e culturais, a partir da apresentação do RG Escolar - um documento emitido gratuitamente pela Secretaria de Estado da Educação. Hoje, graças a uma lei de 1992, só gozam desse benefício aqueles estudantes que se dispõem a comprar uma carteirinha emitida pelas entidades estudantis. Em momento algum, se pretendeu subtrair das entidades o direito de continuar emitindo e cobrando pelas carteirinhas, uma de suas principais - se não a principal - fontes de financiamento.

O que se pretende apenas é oferecer a um número extraordinário de alunos, gratuitamente, o mesmo benefício. Até porque, segundo os dados imprecisos dos debatedores, a quantidade de carteirinhas emitidas pelas duas entidades que representam atende a apenas cerca de 5% dos alunos. Não lhes sensibiliza o fato concreto de que inúmeras famílias não podem adquirir as carteirinhas por falta de recursos, visto que têm dois, três ou mais filhos na escola. Também lhes parece despropositada a idéia de que não faz nenhum sentido negar validade a um documento oficial e gratuito, como o RG Escolar, a não ser por interesses meramente corporativos.

É evidente que a adoção do RG Escolar como documento suficiente para o pagamento da meia-entrada em eventos realizados no Estado não é a salvação da lavoura. Mesmo que aos estudantes fosse dado o direito de assistir aos espetáculos gratuitamente, muitos deles continuariam dentro de casa, pela impossibilidade de pagar a passagem do ônibus. Até o mais tolo dos seres não ignora que é preciso fazer muito mais, que é necessário criar e implantar políticas específicas para a plena formação e desenvolvimento dos jovens como cidadãos. Os sinos que badalam nas catedrais igualmente não ignoram que é preciso distribuir renda, gerar riquezas, criar empregos, abrir perspectivas de uma vida melhor etc.

Não era esse, no entanto, o tema do debate. Vale ressaltar que, para adquirir as carteirinhas, os alunos não precisam ser filiados às entidades. Basta pagar-lhes R$ 15 ou R$ 18. Muitos desses "líderes" não têm nenhum interesse em aumentar o número de filiados, pela simples razão de que não querem enfrentar a oposição de jovens que não comungam na sua suposta ideologia. O que eles querem é continuar administrando o seu cartório.

Em tempo: o título acima foi tomado de empréstimo do jornalista e escritor Humberto Werneck, cujo livro trata de jornalistas e escritores de Minas Gerais.

*Milton Flávio é deputado estadual pelo PSDB e coordenador da Frente Parlamentar do Cooperativismo Paulista.

alesp