AS PEGADINHAS E O MINISTRO - OPINIÃO

Afanasio Jazadji
26/10/2001 18:00

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Tenho criticado o verdadeiro abuso das chamadas "pegadinhas" da TV, que

acabam expondo pessoas ao ridículo, com brincadeiras de péssimo gosto. Na

briga pela audiência da televisão, comunicadores de alto salário e de

baixa categoria, transformaram gente do povo em artistas. Porém, são

"artistas" submetidos a situações vexatórias diante das câmeras, em troca

de um pouco de dinheiro ou do simples desejo de aparecer na televisão. As

"pegadinhas" constituem um desrespeito, uma enorme tortura.

Alguns chegam a promover o "teste de fidelidade", em que

estimulam casais à traição na vida conjugal e expõe situações íntimas. Já

outros agem de modo parecido e já houve até problemas com a polícia em

casos mais chocantes. Como deputado estadual de São Paulo, já exigi

providências das autoridades para acabar com esse tipo de atração dos

programas de TV.

No Rio de Janeiro, as "pegadinhas" já estão proibidas

por uma lei aprovada por unanimidade. O projeto é do deputado André Luiz

do PMDB, que se inspirou numa cena gravada há dois anos na Praça XV.

Naquela praça, no Centro do Rio, perto do ponto de partida das barcas

para Niterói, um desempregado, sem dinheiro, foi filmado ao comprar um

cachorro-quente por apenas um real e descobrir que em seu sanduíche havia

uma barata: tudo registrado pelas câmeras de TV e apresentado numa tarde

de domingo. Agora, no Rio, de acordo com a lei, fica proibido às

emissoras de televisão o uso de pessoas para participar dessas patifarias

em que determinadas pessoas, geralmente simples, são expostas ao

ridículo. Mas eu pergunto: o que fez o governo federal para acabar com

esse problema no País?

A resposta não é muito animadora. O ministro da Justiça, José

Gregori, o mais confuso dos ministros nos quase sete anos do governo

Fernando Henrique Cardoso, está deixando o cargo para ser embaixador do

Brasil em Portugal. Lá vai ele para Lisboa, com todas as suas trapalhadas

e com seus discursos de direitos humanos, deixando por aqui apenas

promessas não-cumpridas. Entre sonhos não-realizados, está o Plano

Nacional de Segurança Pública, anunciado com pompa em 2000 e até agora

sem decolar. Gregori ficou no cargo de ministro por mais de um ano e não

conseguiu levar adiante uma providência que já vinha anunciando em seus

tempos de secretário nacional de Direitos Humanos: a luta para acabar na

TV com as cenas de violência, de exposição de sexo e de degradação.

As "pegadinhas" estão, sem dúvida, entre as características do

lado mau da TV brasileira. Gregori nada fez para bani-las dos programas.

Ao contrário: ao ser convidado para participar de programas populares,

ele não vacilava em aparecer. Da mesma forma, tentou palpitar em assuntos

que não diziam respeito à sua pasta, como a luta de deputados e senadores

para moralizar o futebol por meio de CPIs em Brasília.

De prático, Gregori nada vez. Seu retrato passa a ocupar a

galeria dos péssimos ex-ministros da Justiça. Em quase sete anos de

governo Fernando Henrique Cardoso, estamos partindo agora para o sexto

ministro da pasta, Aloysio Nunes Ferreira Filho, que, entretanto, não vai

além do início de 2002, pois pretende se desincompatibilizar para

concorrer às eleições de outubro. Por lá também passaram Nelson Jobim,

Íris Rezende, Renan Calheiros, José Carlos Dias e José Gregori. Todos de

triste memória pela sua inoperância.

alesp