Opinião - Subdesenvolvimento mental


19/03/2012 09:53

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Ainda outro dia ouvi algumas críticas quanto aos preços dos pedágios cobrados nas estradas paulistas. E até concordei que, para quem trafega todos os dias, pode ser que a reclamação tenha fundamento, afinal pagamos IPVA, pagamos muitos tributos, seguro, seguro obrigatório, combustível a preços elevados e o custo de manutenção dos veículos. No entanto, quando vemos pela TV o resultado de pesquisa que aponta que, das 20 melhores estradas brasileiras, 19 estão situadas no Estado de São Paulo, temos que ficar orgulhosos.

Não vou entrar no mérito do valor das taxas, vou apenas falar da qualidade de nossas estradas, muitas delas no mesmo nível das melhores rodovias dos Estados Unidos e da Europa. E, falando assim, estamos citando o nível de nossa engenharia, a capacidade dos nossos técnicos, a nossa tecnologia e, acima de tudo, o preparo dos nossos trabalhadores.

Foi-se o tempo em que, aceitando como normal as palavras de um famoso compositor, adotávamos o preceito de que tínhamos o espírito do vira-latas, aquele cãozinho simpático, passivo, conformado, sem raça definida, que aceita tudo o que lhe é imposto. Foi-se o tempo: caminhamos a passos largos para ficarmos no mesmo nível das grandes nações. É evidente que temos falhas, que precisamos melhorar. Mas ninguém pode deixar de admitir que estamos avançando.

Em vários setores da medicina, da pesquisa, somos pioneiros. Para citar apenas três exemplos, na oftalmologia, cirurgia plástica e no tratamento contra o HIV o nosso país é destaque. Apesar disso, simplesmente aceitamos como melhor apenas o que chega de fora, o que nos é despejado garganta abaixo.

Fugindo do assunto, citemos a nossa São Paulo. Estamos entre as quatro maiores cidades do mundo, e mesmo para aquelas que estamos atrás, somos melhores em vários pontos, mas ainda não temos consciência disso. Quantos são os brasileiros que se orgulham de passear no Central Parque, e nunca passaram pelo nosso Ibirapuera; muitos outros que foram visitar museus em outros países, e não têm noção de que temos dezenas de museus extremamente importantes em nossa cidade.

Quantos dos nossos leitores já ouviram falar ou conhecem o Núcleo do Engordador, o Parque do Carmo, o Núcleo da Pedra Grande, o nosso Jardim Botânico, o Parque da Zona Leste, o Zoológico? Quantos já visitaram Embu das Artes, um autêntico ateliê a céu aberto, alvo de visita de turistas do mundo inteiro? Assim, poderíamos citar uma grande quantidade de atrações que São Paulo oferece, mas que, no entanto, permanecem esquecidas pela população.

Assim, se esquecemos ou ignoramos o que temos de melhor, como lutar, como defender a cidade, como defender a nossa cultura, como defender os nossos interesses, como defender a nação? Sei que é difícil a resposta, principalmente para os que se conformam com o quadro atual. A eles, um simples lembrete: pior que o subdesenvolvimento é a mente subdesenvolvida. E isso pode ser traduzido pelo termo simples, nem por isso muito agressivo: espírito de vira-latas, infelizmente. (mlf)



*Vitor Sapienza é deputado estadual (PPS), presidente da Comissão de Ciência, Tecnologia e Informação, ex-presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo, economista e agente fiscal de rendas aposentado.

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