QUESTÃO FECHADA - OPINIÃO

Milton Flávio
22/10/2001 20:07

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Agora, é oficial. O Partido dos Trabalhadores, por meio de seu diretório municipal, acaba de endossar a política educacional dos ex-prefeitos Paulo Maluf e Celso Pitta, até então alvos de suas críticas mais iradas. É o que se depreende diante das notícias de que, no último fim de semana, o novo diretório municipal aprovou uma resolução apoiando a proposta da prefeita Marta Suplicy de incluir o pagamento de inativos, compra de uniformes escolares, despesas com transporte e investimentos com o Projeto Renda Mínima nas despesas com a Educação.

Fechada a questão, isso significa que à bancada de vereadores petistas na Câmara Municipal de São Paulo não restará outra alternativa a não ser votar favoravelmente ao projeto da prefeita, jogando literalmente no lixo todos os discursos feitos ao longo dos últimos oito anos, no tom raivoso de sempre. Como se vê, no governo, ao menos na área da Educação, o PT faz exatamente o mesmo que condena em seus adversários, quando na oposição. Ou alguém acredita que, dessa vez, o "centralismo democrático" petista não vai funcionar, impedindo que alguns vereadores, historicamente comprometidos com o setor, tenham que enfiar suas violas no saco?

Registrada a incoerência entre o dizer e o fazer - e muitos deles ainda dizem que foi o presidente da República quem pediu para as pessoas esquecerem o que ele escreveu -, vamos a um segundo ponto. A Prefeitura tem condições financeiras de excluir os gastos dos inativos dos 30% a que está obrigada a investir no setor? Se não tem hoje, é lícito imaginar que ontem, ou há dois anos, também não tinha. Logo, as críticas feitas pelos petistas, Marta Suplicy inclusive, aos ex-prefeitos foram levianas. Mais: que ao longo dos últimos anos, o partido fez uma vergonhosa propaganda enganosa, ao prometer o que não iria cumprir, ou porque não poderia por falta de recursos, ou porque se limitava a fazer a crítica pela crítica.

Parte do desgaste da classe política, não há dúvida, vem da incoerência entre o que se promete e o que se faz. E, pelo exposto, fica claro que o PT não se furta a contribuir para esse desgaste. Mas, com a sem-cerimônia de sempre, continua acusando o governo federal de sucatear as universidades públicas e cobrando do governo do Estado mais recursos para USP, Unicamp e Unesp, como se apenas a administração de Marta Suplicy enfrentasse problemas de caixa. Para os outros, como se sabe, o dinheiro cai do céu.



Milton Flávio é deputado estadual pelo PSDB, presidente da Comissão de Assuntos Internacionais da Assembléia Legislativa de São Paulo e presidente da União Parlamentar do Mercosul (UPM)

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