AS ROSAS NÃO FALAM - OPINIÃO

Milton Flávio*
15/08/2000 16:17

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Vá até o botequim da esquina, peça uma cerveja, mostre interesse pela partida de bilhar que ali se trava e puxe uma conversa com os vizinhos de balcão. Procure saber quais são, na visão deles, os grandes problemas nacionais. E, mais importante, quem são os principais responsáveis pelos problemas. Uns, sem dúvida, apontarão o desemprego como o maior desafio a ser vencido. Outros indicarão a violência urbana. Não faltará quem alegue que a iníqua distribuição de renda existente no país, a disseminação das drogas, o preço dos aluguéis e a falta da pena de morte não podem ser, igualmente, ignorados.

Compreende-se a divergência de opiniões. Os problemas, a exemplo da inflação, não têm o mesmo peso para todas as pessoas. Além disso, os nossos problemas são sempre maiores que os dos outros. Quem mora em casa própria e tem imóvel alugado quer mais que o mercado imobiliário se aqueça e que os preços disparem. Quem foi assaltado ao sair do escritório, por sua vez, prega a execução sumária, em praça pública, de todos os delinqüentes. Se for inquilino, também torce para que os proprietários sejam igualmente mortos e sepultados em cova rasa.

Entre os companheiros de balcão, no entanto, verificaremos uma unanimidade, ou melhor, duas. Primeira, o que impede o Brasil de ir para a frente é a corrupção. Segunda: não há ninguém mais corrupto entre nós que os políticos. Logo, se os políticos forem eliminados e substituídos por gente de pulso e vergonha na cara, será dado um basta na corrupção e os problemas serão imediatamente superados E ponto final. Até porque, no imaginário popular, as coisas se resolvem assim mesmo: de forma simples e direta, sem rodeios. O resto é elucubração de intelectuais.

Essas duas certezas extrapolam os limites do botequim, entram pela porta de nossa casa, invadem os escritórios e as fábricas, permeiam, enfim, quase todas as conversas. Basta ter ouvido para ouvi-las. Não por acaso, todas as pesquisas de opinião mostram isso, a sociedade brasileira, cada vez mais, descrê das instituições e, em especial, dos políticos. É crescente o seu desencanto com a chamada democracia representativa, cuja preservação é tão importante quanto o resgate do dinheiro público surrupiado, à sorrelfa, por ladrões de diferentes origens e coturnos.

Na verdade, todos nós - políticos, governantes, juízes, empresários, jornalistas, procuradores - somos responsáveis por essa situação. Melhor dizendo, todos nós temos, ainda que em graus diferentes, parcela de culpa nesse processo. Senão, vejamos. O Legislativo, não se pode ignorar, tem lá suas mazelas, nem sempre atua com a objetividade e a rapidez exigidas pela sociedade. Há em seu meio, como em qualquer outro, gente que presta e imprestáveis. Além disso, só é notícia quando se descobre - ou se julga ter descoberto - algo de podre em suas entranhas.

Parte da imprensa, dos promotores e da oposição vive em estado de excitação máxima, sempre disposta a denunciar e a julgar, ainda que sem provas, quem ocupe qualquer cargo no governo. O que importa é criar fatos, alimentar suspeitas, vender jornais e revistas, aumentar os índices do Ibope, porque cada ponto a mais vale uma fortuna. A Justiça, por sua vez, historicamente acusada de cega e lerda, paga hoje um preço adicional: o de ter, ou ter tido, "Lalau" e assemelhados em seus quadros.

Alguém que chegue ao Brasil e se disponha a ler os diários, assistir ao noticiário da tevê e ir ao botequim da esquina para tomar uma cerveja e conversar com os vizinhos de balcão terá a impressão de que, aqui, os homens públicos são todos corruptos, desde que, claro, não pertençam à honorável seita petista. Se com insistência e o apoio de parte da imprensa, esse grupo de promotores e oposicionistas inconseqüentes, resolver provar, por hipótese, que o grande problema nacional é a geada que dizimou as flores de Holambra, nosso amigo forasteiro e inúmeros outros compatriotas não terão dúvidas de que estarão diante de uma verdade inquestionável. Ainda que não tenha geado em Holambra. Ainda que as rosas não falem e, portanto, não se queixem.

Milton Flávio é deputado estadual

pelo PSDB e líder do governo

na Assembléia Legislativa

alesp