Opinião - Do abandono à inexistência


28/08/2009 10:25

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O fato de um cidadão não ter uma moradia ou mesmo saneamento básico também é uma violação dos direitos humanos, mas infelizmente essa vem sendo a realidade de alguns. Hoje, milhares de pessoas moram em zonas de risco ou terrenos invadidos, mas elas foram quase que empurradas para morar nesses locais. É claro que essas pessoas não puderam escolher uma moradia melhor, resultado da desigualdade social e do abandono que muitos têm sofrido.

Infelizmente, na última segunda-feira vivenciamos um episódio assustador, uma reintegração de posse de um terreno no bairro de Capão Redondo, em que 800 famílias ficaram sem moradia. A favela Olga Benário foi cenário de uma verdadeira batalha campal. Pessoas atearam fogo em seus próprios barracos na esperança de impedir a ação da polícia. Idosos, crianças, mulheres e grávidas lamentaram-se por perder a única coisa que conquistaram. Para esses milhares de pessoas resta a sensação de abandono, a dor de não ter ao menos uma simples moradia. Não possuir uma condição mínima de sobrevivência é o mesmo que dizer a estas pessoas que elas não tem o direito de existir.

O problema deixou de ocorrer apenas no âmbito estadual ou nacional, mas alcançou a população mundial, e isso piora na medida em que aumenta o abismo entre os pobres e a sociedade opulenta. Não questiono a ação da polícia ou do Ministério Público, pois eles estão apenas cumprindo ordens, mas temos que reavaliar o tratamento dispensado a estes cidadãos. Muitos deles construíram uma espécie de acampamento com o resto dos barracos que um dia chamaram de lar e agora amargam viver nas ruas. Desocupou-se o terreno, mas para onde vão essas famílias?

Essas pessoas esperam a moradia definitiva, aguardam projetos que os beneficiem com a tão sonhada casa própria, mas enquanto isso sofrem por causa dessa espécie de abandono social. Mais do que nunca, precisamos tomar providências para que essas e tantas outras pessoas possam ter uma moradia digna. Muitos têm questionado e discutido o aumento da violência, mas é quase impossível barrar esse problema se os menos favorecidos não puderem usufruir uma condição mínima. A realidade é que muitos ainda encontram no crime uma saída, e ações drásticas como essa da segunda-feira só aumentam a sensação de abandono e a revolta dessas pessoas.

Não podemos pensar em menos violência sem falar em saneamento básico, moradia e emprego. Só será possível pensar em uma sociedade menos violenta quando todos puderem ter o que lhes é de direito: emprego, saúde, educação e moradia. Precisamos pensar em projetos para estimular a geração de empregos em nosso Estado e em todo o país. A moradia é uma necessidade, sem ela o individuo está excluído da sociedade e inexiste para si.





*Gilmaci Santos é deputado estadual pelo PRB, presidente estadual do partido e participa das comissões de Defesa dos Direitos do Consumidor e de Economia e Planejamento.

alesp