"CHANTAGEM POSITIVA" - OPINIÃO

Duarte Nogueira*
15/05/2001 15:29

Compartilhar:


No ano internacional do voluntário, a participação dos brasileiros mereceu destaque na imprensa internacional pelo tamanho de sua generosidade. A edição do dia sete de abril do jornal norte-americano "Washington Post" colocou o Brasil com um percentual de investimentos do setor privado na área social semelhante aos dos países europeus. E a reportagem foi além: estimou que, de cada quatro brasileiros, um está envolvido com atividades filantrópicas.

É um exército de anônimos espalhados por todo o país num trabalho de formiguinhas: doam parte de seu tempo, uma fatia do seu salário ou do faturamento de sua empresa movidos pela filosofia de que as grandes mudanças, sejam elas sociais, conceituais e culturais dependem do pouco que cada um pode oferecer.

E o trabalho que inicialmente era chamado de caridade movimenta hoje 2,2% do Produto Interno Bruto, emprega mais de um milhão de pessoas, o correspondente a 20% do trabalhadores do setor público. Desses recursos, cerca de 37% vão para a educação, 18% para a saúde, 17% para a assistência social e 17% para cultura e recreação.

O Terceiro Setor norte-americano movimenta 7% do seu PIB, mas o voluntários brasileiros não ficam atrás. Estima-se que até o final desta década, o Brasil terá aplicado 4,5% de suas riquezas nos setores sociais. Há seis anos, essas doações somavam em torno de R$ 10,6 bilhões, que se convertiam em projetos sociais, o equivalente a 1,5% do PIB.

Dada sua importância, apresentamos e aprovamos projeto que estabelece o "Dia do Terceiro Setor", a ser comemorado no dia 23 de março, já que nesta data no ano passado foi aprovada a lei federal que estabeleceu requisitos para que as instituições ligadas ao terceiro setor pudessem receber essa qualificação.

O brasileiro doa quase um salário mínimo por ano para atividades filantrópicas e o crescimento do Terceiro Setor no Brasil também está relacionado a um maior envolvimento das empresas.

Pesquisa do Centro de Estudos do Terceiro Setor da Universidade de São Paulo demonstrou que das 273 empresas pesquisadas em 51 cidades brasileiras, 56% apoiam programas sociais e 48% têm funcionários que atuam como voluntários, inclusive durante o horário de trabalho na empresa. E além de colaborar, o cidadão também pode contribuir para estimular o engajamento do setor privado.

Basta dar preferência a produtos e serviços oferecidos por empresas que comprovadamente estejam envolvidas em projetos sociais. É a "chantagem positiva": a empresa que investe mais no setor social é a que será privilegiada pelo consumidor. E essa mesma tese é a que está sendo adotada para coibir o desrespeito ao meio ambiente e nas campanhas contra o emprego de crianças e adolescentes.

O Brasil dá um exemplo de generosidade e demonstra que, ao invés de culpar o governo e a suposta crise econômica, o brasileiro resolveu dar a sua contribuição a quem precisa. Resta agora agregar mais e mais voluntários e a "chantagem positiva" pode ser um meio de buscar novas empresas.

Duarte Nogueira, 36, é engenheiro agrônomo, líder do governo na Assembléia Legislativa e vice-presidente do PSDB de São Paulo. Foi secretário de Estado da Habitação no governo Covas (95/96)

alesp