A VIOLÊNCIA NO INTERIOR E NO LITORAL - OPINIÃO

Afanasio Jazadji*
06/11/2000 16:32

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Uma estatística que toma por base a média dos crimes em relação à população mostra que, dos 60 municípios mais populosos do Estado de São Paulo, Praia Grande aparece em primeiro lugar como o de maior índice de violência e criminalidade, com exceção da sempre assustadora Capital. Essa conclusão faz parte do resultado de uma pesquisa feita pelo professor de estatística, José Peres Netto, ex-assessor da Secretaria da Segurança Pública do Estado, que analisou registros dos quatro tipos de crime de maior incidência no período de 1995 a 1998: homicídios dolosos, furtos, roubos de veículos e furtos de veículos.

O professor Peres utilizou os números da própria Secretaria e ordenou os dados, conferindo pesos diferentes para os crimes. Homicídio, por ser mais grave, ficou com peso mais alto. Além disso, ele também levou em conta a proporção entre os crimes e o total da população de cada município e preferiu usar a média em relação a 10 mil habitantes. Praia Grande aparece em primeiro lugar pelos dois critérios: pela soma e pela média. Trata-se de município de crescimento rápido e de grande presença de veranistas, o que incentivou a evolução da criminalidade. Na proporção, algumas surpresas: Jacareí, que tem só 170 mil habitantes, aparece em terceiro lugar no ranking; dos municípios mais populosos, a posição mais tranqüila é de Guarulhos, que surge em 23.º; Diadema está em segundo lugar; São Bernardo em quarto; Campinas em quinto e Guarujá em sexto. De um modo geral, porém, a conclusão é de que mesmo cidades anteriormente calmas passaram a ter preocupação com o avanço da violência. Estranhamente, municípios como Indaiatuba e Vinhedo, ambos na região de Campinas, estão sofrendo com os ataques de quadrilhas de seqüestradores, que atemorizam pessoas da classe média. Não há dúvida de que esta situação tem tudo a ver com o estado de abandono a que foi relegada a Política de São Paulo nos cinco anos e meio das gestões do governador Mário Covas. Apesar dos últimos investimentos em viaturas, os recursos da segurança pública contra o crime ainda são muito precários. Os ladrões, assaltantes e assassinos sabem disso e tratam de agir livremente. Por outro lado, as pessoas também não devem entrar na onda de candidatos a prefeito que prometem segurança: essa responsabilidade é muito mais dos administradores estaduais que dos municipais. A época não é de demagogia e sim de atitudes afetivas e éticas. A participação da iniciativa privada e das ONGs pode ser fundamental, na luta contra a violência e a criminalidade do Interior e no Litoral. Alguns jornais e emissoras de rádio e TV de Santos, Campinas e Ribeirão Preto fizeram campanhas em defesa da paz e muitos empresários estão dispostos a ajudar. O que não podemos aceitar é o fim da idéia de que o Interior era um paraíso. Devemos ter em conta a possibilidade de essa situação ser transitória, para que, a partir de ações concretas dos governos e das comunidades, nossos municípios voltem a ser calmos e saudáveis como o sol da primavera. Por isso mesmo, se o governador gosta de percorrer o Interior para inaugurar obras e contestar manifestantes, é bom que ele se prepare para mexer na Polícia e possa divulgar balanços menos negros que os atuais.

Afanasio é radialista e deputado estadual e líder da bancada do PFL na Assembléia Legislativa

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