NINGUÉM É TOLO - OPINIÃO

Milton Flávio*
25/05/2001 14:18

Compartilhar:


Meus companheiros de partido que me desculpem. Nada poderia ter sido mais infeliz do que sugerir ao presidente Fernando Henrique que se fingisse de desinformado ou tentasse atribuir a culpa da crise energética a Antônio Carlos Magalhães. Ora, responsabilidade é algo que não se transfere. Se alguém escondeu do presidente fato de tal gravidade, deveria estar na rua há muito tempo. ACM é o que se sabe - e talvez um pouco mais. Não carece de novos pecados. Se indicou os últimos ministros do setor, o presidente os nomeou. A caneta que nomeia é a mesma que demite. Negar isso é subestimar a inteligência alheia.

Teria sido muito mais adequado para o governo e para todos os que compõem a sua base de sustentação assumir, de pronto, parte da responsabilidade que lhes cabe na atual crise energética. Explicar com todos os números por que os investimentos não foram feitos na época certa, mostrar por que se demorou tanto tempo para definir a política tarifária para as termelétricas, detalhar as dificuldades encontradas para mudar o perfil da matriz energética, tudo isso seria, reconheço, insuficiente para evitar o desgaste político e impedir o oportunismo de parte da oposição. Refiro-me aos que, não faz muito tempo, se fingiam horrorizados diante do anúncio de que era necessário construir novas hidrelétricas. À época, diziam que não havia crise energética alguma, que o governo queria apenas encher as burras dos empreiteiros, de quem estava a serviço.

Seja como for, o estrago está feito. Tão importante quanto definir - sem paixões, mas com honestidade - a parcela de responsabilidade de cada grupo político pela crise é contribuir para que o país a supere rapidamente. É definir uma linha de ação, estabelecer um cronograma de investimentos para que os riscos de blecautes sejam afastados de uma vez por todas. Dessa tarefa, nenhum de nós pode se eximir. É fundamental que todos dêem sua contribuição, reduzindo o consumo, mudando hábitos e refletindo seriamente sobre várias outras crises, há tempos anunciadas, que cedo ou tarde se manifestarão. A crise do lixo é uma delas. Sem uma política séria - o que se vê por aí não vão além de propostas vagas, para sair na mídia - de coleta seletiva, em pouco tempo estaremos no pior dos mundos. Quem viver verá. Infelizmente, tendemos a cuidar do imediato e a deixar o futuro nas mãos de Deus. A imprevidência parece ser algo inerente à natureza humana.

A crise energética atual também aponta para a necessidade de o Parlamento se tornar mais cioso de suas responsabilidades, entre as quais está a de discutir os problemas com profundidade, analisar suas causas, propor soluções e medidas de curto, médio e longo prazos. É inconcebível que continuemos a perder tempo e energia enormes com o furor denuncista de grupos minoritários e falsamente indignados. A eles não interessa o confronto de propostas factíveis, pelo simples fato de que não as possuem. Do contrário, já as teriam apresentado. Mas isso exige trabalho e competência.

Que se dote a Receita, a Polícia Federal, o Ministério Público e a Justiça de mecanismos e poderes que lhes permitam investigar e punir os culpados por desvio de dinheiro público. Não é possível manter o debate político no nível atual, onde fulanos se gabam de ser menos desonestos que beltranos. Esse reducionismo convém exclusivamente aos que não têm programas, aos que não têm alternativas a oferecer ao modelo atual. Não conheço ninguém mais honesto que meus pais. Não obstante, não os considero aptos a governar o Brasil.

Em que pese a barbeiragem na condução da política energética, o presidente Fernando Henrique e o PSDB têm o que mostrar e o que propor à sociedade. Seria bom que os neoudenistas pudessem fazer o mesmo. Infelizmente, não podem.

*Milton Flávio é deputado estadual pelo PSDB, vice-líder do governo na Assembléia Legislativa e coordenador da Frente Parlamentar do Cooperativismo Paulista.

alesp