REPÚBLICA DOS BACHARÉIS - OPINIÃO

Milton Flávio*
23/08/2001 16:18

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As discussões em torno do ensino superior estão na ordem do dia. Ora se cobra dos responsáveis pelas universidades públicas maior empenho na abertura de novas vagas e cursos. Ora se critica o governo federal por ter permitido uma forte expansão das instituições de ensino superior privadas, quando, na verdade, muitas delas nem deveriam estar funcionando, dada à precariedade do ensino que oferecem aos seus alunos. Ora se cogita da possibilidade de estabelecer cotas nas universidades estaduais e federais para alunos que cursaram o Ensino Médio em escolas públicas. Ora se pretende cobrar mensalidades dos que, em boa situação financeira, estudam de graça nas universidades públicas. Há propostas e críticas para todos os gostos. E é bom que isso aconteça, pois revela que o tema "educação" está definitivamente incorporado à agenda de prioridades da sociedade brasileira.

Hoje, apenas uma pequena parcela - cerca de 12% - dos jovens com idade entre 18 e 24 anos freqüenta instituições de ensino superior. É um índice bastante modesto, inclusive quando comparado aos de outros países do continente. A meta estabelecida pelo Plano Nacional de Educação é a de que no final da década ela bata na casa dos 30%. Por uma série de fatores - expansão do Ensino Médio, exigências crescentes do mercado de trabalho, globalização etc. -, a demanda por cursos e vagas vai crescer de forma exponencial nos próximos anos. É forçoso reconhecer o esforço que algumas universidades públicas, em especial a USP, Unicamp e Unesp, estão fazendo para abrigar um número maior de alunos, inclusive no período noturno. Mas, por mais que se esforcem, jamais conseguirão atender toda a demanda. Daí, a importância do setor privado, que deve ser visto como um parceiro nesse processo de expansão - desde que, claro, ofereçam aos seus clientes produtos de qualidade.

Agora, é preciso estar atento a um fato - o de que nem todos que já ingressaram ou vão ingressar nas instituições de ensino superior serão bacharéis ou doutores. Muitos serão tecnólogos, visto que farão um curso com duração média de dois anos, com possibilidade de complementação posterior, e estarão aptos, ao menos em tese, para suprir uma das grandes carências nacionais: a falta de mão-de-obra qualificada, que contemple as necessidades do mercado. E isso se deve à Lei de Diretrizes e Bases da Educação, aprovada em 1997.

Durante as décadas de 70, 80 e 90, o Brasil deixou de formar técnicos de nível. A partir da Lei do Ensino Profissionalizante, editada em 1971, as melhores escolas técnicas fecharam, já que não conseguiam competir com as verdadeiras arapucas que surgiram - instituições que não dispunham de laboratórios, nem de professores qualificados, mas cujo sucesso residia na ninharia que cobravam pelo diploma. Com isso, o ensino técnico deixou de ser valorizado, perdeu o status. E então se pretendeu criar, aqui, uma República de Bacharéis. O resultado aí está: em algumas áreas sobram diplomados, mas em quase todas faltam profissionais que saibam lidar com equipamentos e tecnologias sofisticados.

Pesquisa realizada no mês de julho pela InterSciense, com empresários de diferentes segmentos, mostra que para a esmagadora maioria (91%) a falta de especialização é a principal razão da dificuldade de se encontrar profissionais qualificados. Em 2000, pesquisa semelhante mostrava que apenas 20% dos entrevistados tinham dificuldade de encontrar profissionais qualificados. Na última pesquisa, esse índice subiu para 45%.

Resumo da ópera: para que o país atinja o desejado desenvolvimento social e econômico é fundamental que se crie uma ampla República, que comporte doutores e bacharéis, mas também tecnólogos, técnicos e operários qualificados. E o caminho, claro, é a Educação.

* Milton Flávio é deputado estadual pelo PSDB e presidente da Comissão de Assuntos Internacionais da Assembléia Legislativa de São Paulo

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