A LÓGICA DE DONA MARTA - OPINIÃO

Milton Flávio*
07/11/2000 12:03

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"Aqui, é diferente. É uma situação excepcional, de catástrofe. E as forças que me levaram ao cargo têm um compromisso, que é a renovação. Então, como é que é? Leva lá e depois deixa?" Esse questionamento, publicado nos jornais, foi feito na última semana pela prefeita eleita de São Paulo, Marta Suplicy, diante da possibilidade concreta de que vários partidos que a apoiaram no segundo turno, PSDB inclusive, venham a lhe fazer oposição na Câmara Municipal.

Questionada pelos repórteres se esse não era exatamente o mesmo procedimento adotado pelo seu partido em relação aos governos federal e do Estado de São Paulo, Marta Suplicy não teve como negar o óbvio. E, dessa vez, nem pôde alegar "tilt" - um recurso de que tem abusado para não responder ao que não sabe ou para evitar polêmicas dentro de sua própria legenda. Mas, como o tempo é de trégua, pois não há quem saia ileso de uma campanha eleitoral, tenhamos paciência: cedo ou tarde, saberemos a opinião da prefeita eleita, por exemplo, em relação à Lei de Responsabilidade Fiscal, que divide o seu partido, e sobre a distinção por ela anunciada (mas não explicada) entre "socialismo moderno" e social-democracia.

Voltemos ao que interessa. No segundo turno das duas últimas eleições estaduais, o PT emprestou apoio ao governador Mário Covas. Mas, desde sempre, deixou claro que lhe faria total oposição na Assembléia Legislativa. Seus representantes têm cumprido exemplarmente o prometido. Digo mais. Têm ido muito além do que se poderia imaginar. Movidos por interesses eleitorais de curto e médio prazos, por um corporativismo cego e - por que não dizer? - por um rancor descabido, posicionam-se contra praticamente todas as iniciativas do Executivo. A eles parece nunca ter ocorrido o fato de que o governador Mário Covas também pegou um Estado quebrado, sem recursos sequer para pagar a folha de pagamentos. Em relação ao governo federal, é igualmente cega a oposição feita pelo PT no Congresso. Tudo bem. Não se pode alegar que o partido apoiou no segundo turno a candidatura do presidente Fernando Henrique, pela simples razão de que, em duas vezes consecutivas, foi por ele derrotado já no primeiro turno. Não se pode também tirar do PT o direito de discordar da atual política econômica. Mas por que tanto rancor, uma oposição tão ferrenha que, freqüentemente, inviabiliza a troca de idéias e impede a realização de acordos de interesse da sociedade? Na oposição, o PT inverte a velha máxima segundo a qual todos são inocentes até prova em contrário. É o partido das CPIs, da busca permanente dos holofotes, do denuncismo inconseqüente.

Ora, o que levou o PSDB em São Paulo a apoiar a candidatura de Marta Suplicy foi, além de seus méritos inegáveis, a verdadeira ojeriza aos métodos políticos utilizados por seu adversário, cuja carreira parece ter sido finalmente sepultada. Cabe, portanto, ao PSDB o direito de fazer oposição ao seu governo, de fiscalizá-lo com todo o rigor, de cobrar a realização dos compromissos de campanha. Não será uma oposição cega e rancorosa, como a que o PT costuma fazer, sem levar em conta que os interesses da sociedade devem estar acima dos desejos corporativos. Disso a prefeita eleita pode ter certeza.

Não há dúvidas de que a cidade de São Paulo vive uma situação "excepcional, de catástrofe" - uma herança lamentável das administrações Maluf e Pitta. E foi justamente por isso, por ter tido a sorte "excepcional" de se defrontar com Maluf no segundo turno, que a candidata do PT recebeu o apoio de diferentes forças políticas e acabou se elegendo.

*Milton Flávio é deputado estadual pelo PSDB e líder do Governo na Assembléia Legislativa.

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