Opinião - A marcha da vergonha


24/05/2011 12:43

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Na semana passada, o juiz Davi Capelatto, do Departamento de Inquéritos Policiais e Corregedoria da Polícia Judiciária da capital, liberou a Marcha da Maconha, em decisão que beneficiava 17 integrantes do movimento. Eles acionaram a Justiça de forma preventiva para evitar o enquadramento nos delitos de apologia ao crime e indução ao uso de drogas. O juiz afirmou, na ocasião, que não havia nada que caracterizasse a finalidade ilícita do movimento.

A marcha, que estava marcada para o dia 21 de maio, no vão livre do Masp, teve um fim mais inusitado ainda: no último momento, a 2ª Câmara de Direito Criminal do Tribunal de Justiça de São Paulo proibiu, por meio de liminar em mandado de segurança, a realização da Marcha da Maconha. O pedido foi feito por representantes do Ministério Público do Grupo de Atuação Especial de Repressão e Prevenção aos Crimes Previstos na Lei Antitóxicos (Gaerpa).

Já me posicionei por inúmeras vezes sobre a liberação da maconha e, assim como minha opinião sobre outros temas de grande debate, conservo uma postura, considerada por muitos como conservadora, mas, que, a meu ver, é apenas uma maneira de valorizar a família e o respeito em nossa sociedade. Sou da opinião que este tipo de passeata não acrescenta nada à discussão pública.

Na verdade, o que acabou em pancadaria é, para mim, uma manifestação pelo uso coletivo da maconha e visa apenas incentivar práticas consideradas delitivas pela nossa legislação, uma verdadeira apologia ao uso de drogas. Creio que esse tipo de encontro, diferente do debate saudável, favorece apenas a venda e o aumento do consumo de drogas ilícitas.

Concordo com a visão de que a atual proposta de apenas coibir o uso da maconha não tem resultado em algo positivo e muito menos diminuído o número de usuários de droga. Mas não considero a liberação como algo que irá resolver todos os problemas. Na verdade, essa seria uma maneira de maquiar uma situação que só vem piorando.

Legalizar seria como dizer: "se não dá para barrar o aumento do uso de drogas ilícitas e do tráfico delas, então, vamos liberar e ver no que dá". O grande problema é que a marcha leva ao usuário de drogas uma falsa sensação de respaldo por parte da sociedade e também acaba por incentivar que crianças, jovens e adultos tenham a curiosidade em experimentar a substância ou outras bem mais nocivas.

Uma pesquisa realizada por cientistas da Nova Zelândia analisou os efeitos cancerígenos da maconha e do tabaco. Os pesquisadores concluíram que, num período de dez anos, o consumo diário de um cigarro de maconha pode ter os mesmos efeitos nocivos que os de 20 cigarros de tabaco. Então, me pergunto, por que legalizar algo que vicia, é maléfico e abre as portas para drogas mais fortes e mortais?

O problema é que a legalização das drogas é um assunto que tem sido supervalorizado pela mídia em geral. Para mim, esta é uma questão secundária, frente a tantos outros problemas de grande relevância.

O que dizer da professora Amanda Gurgel, que ficou famosa após expor a realidade nua e crua da educação no Brasil? Esse não seria um assunto muito mais emergencial e que merece a cobertura da imprensa? Isso sim é algo digno da comoção nacional.

Legalizar as drogas não mudaria em nada a situação caótica em que vivemos. Hoje, me parece que a maioria deixou de prezar conceitos fundamentais para um bom convívio social. O certo, agora, parece ser errado. Sou favorável, sim, a projetos que envolvam esses usuários em ações que levem à autorreflexão e os coloquem em contato com a cultura e o esporte. Esta pode até ser a maneira mais difícil e o caminho mais longo, mas também é a forma mais efetiva de combater a violência e o tráfico.

Onde estão "as marchas" pela educação, pelo emprego e pela família?





*Gilmaci Santos é deputado estadual pelo PRB e presidente estadual do partido.

alesp