Brasil no alto da lista da violência

OPINIÃO - Afanasio Jazadji*
04/06/2004 18:40

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Recentes cenas de violência no Rio de Janeiro chocaram a opinião pública brasileira e foram mostradas em jornais e TVs do mundo inteiro: ao iniciar rebelião na Casa de Custódia de Benfica, em 29 de maio, centenas de presos, sob a liderança da facção criminosa Comando Vermelho, tomaram 26 pessoas como reféns e mataram cruelmente uma delas, o agente Marco Antônio Borgatte.

O desfecho, 60 horas depois, foi horripilante: após o fracasso das negociações com os detentos, a polícia constatou que mais de 30 presos haviam sido mortos. Balanço que coloca Benfica na história das maiores tragédias em cadeias do país. Mais uma vez, a incompetência das autoridades para lidar com bandidos contribui para manchar o nome do Brasil.

O motim sangrento de Benfica ocorreu apenas alguns dias depois da divulgação de duas notícias importantes: o alto índice de criminalidade causou a eliminação do Rio entre as cidades candidatas a organizar a Olimpíada de 2012; e uma pesquisa internacional colocou o Rio e São Paulo entre as metrópoles mais perigosas do mundo. Essas duas notícias estão diretamente relacionadas e tem tudo a ver com o fato mais recente, a rebelião de Benfica.

De modo infantil certas pessoas reclamaram que o Comitê Olímpico Internacional foi injusto ao eliminar o Rio da lista de nove cidades interessadas em promover a Olimpíada. Na verdade, a atual situação das grandes cidades brasileiras não garante segurança para a população local e nem para visitantes estrangeiros.

Das nove cidades anteriormente candidatas a organizar os Jogos Olímpicos de 2012, foram eliminadas quatro: Rio, Havana, Istambul e Leipzig. A sede será escolhida em julho de 2005, entre as cinco remanescentes: Paris, Londres, Madri, Moscou e Nova York. A pergunta que se faz é a seguinte: mesmo sendo ressaltadas as inegáveis belezas naturais do Rio, seria possível acreditar na chance de a metrópole carioca superar as condições daquelas cinco outras cidades quanto a transporte, instalações esportivas e segurança dos atletas e dos turistas? É claro que não.

A restrição ficaria por conta de Nova York, alvo em potencial dos terroristas diante de ações dos Estados Unidos em conflitos no Oriente Médio. No entanto, o terrorismo do dia-a-dia do Rio, por conta de quadrilhas de traficantes, corresponde ao terrorismo de facções árabes radicais. Os números de mortes ocorridas em constantes choques no Iraque são pequenos, se comparados com o total de assassinatos registrados a cada dia no Rio, São Paulo e outras grandes cidades do Brasil.

A empresa americana Mercer Human Ressource Consulting, que atua em 40 países, divulgou pesquisa sobre as condições de política, economia, saúde, transporte e segurança de 215 cidades do mundo. Em qualidade de vida, São Paulo surge em 107.º lugar. O Rio está em posição ainda pior: 118.º lugar. O fator que mais influiu na classificação das duas metrópoles brasileiras foi a falta de segurança. Intriga? Nada disso! Vamos reagir, em vez de esconder a realidade.

*Afanasio Jazadji é radialista, advogado e deputado estadual pelo PFL

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