A greve da Polícia Civil, a mais mal paga do país


11/11/2008 18:18

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A mobilização dos servidores integrantes da carreira da Polícia Civil em defesa de salários dignos, condições adequadas de trabalho e investimentos em Segurança Pública revelou, para todos nós, a falência das desastradas políticas salariais adotadas para os servidores públicos do Estado de São Paulo, que no geral não tem reajuste há mais de 14 anos.

A falta de respeito à data-base salarial, garantida por lei estadual, e a falta de diálogo com os servidores e suas entidades representativas têm sido a marca do governo e as principais causas da greve da Polícia Civil, a mais mal paga do Brasil, que já dura mais de 50 dias.

Como o governo não tem a menor intenção em atender as justas reivindicações dos servidores e valorizar a carreira, tornando-a mais atraente, ele vem desqualificando o movimento legítimo e constitucional dos policiais, ora dizendo que é dirigido por partidos da oposição com caráter eleitoral, ora argumentando que as entidades que representam os servidores são muitas e não chegam a um acordo entre elas. Ressaltamos também que há um caráter repressivo do governo estadual ao afastar e transferir vários delegados (de seus postos) que aderiram à greve, jogar a Tropa de Choque da Polícia Militar contra a manifestação pacífica que ocorreu nas imediações do Palácio dos Bandeirantes no dia 13 de outubro e, depois, tentar enganar a opinião pública dizendo que existe uma briga entre as duas polícias para tirar o foco das reivindicações dos servidores; até o caso da morte da menina Eloá, de Santo André, foi instrumentalizado pelo governo a fim de desviar a atenção da crise, que já se arrasta a níveis críticos por falta de gestão do Estado.

Numa outra manobra palaciana, uma liminar na Justiça paulista foi ganha pelo governador José Serra e proibiu a veiculação de um informativo de 34 segundos no horário nobre da Rede Globo, redigido pelos servidores da Polícia Civil para dar a versão deles sobre a verdade dos fatos em relação à paralisação. Esse procedimento se caracterizou num verdadeiro atentado à liberdade de expressão, de opinião e de manifestação. De que o Executivo tinha medo? Da voz dos servidores?

A última tentativa para esvaziar o movimento soou patética quando o governo, sem dialogar mais uma vez com as entidades dos servidores e com todos os deputados da Assembléia Legislativa, apresentou uma proposta de antecipação de reajuste de 6,5% para novembro deste ano e outros 6,5% para novembro de 2009.

Mesmo com um excesso de arrecadação em 2008 de quase R$ 8 bilhões e com apenas 38% de investimento na folha de pagamento dos servidores, distante ainda do limite prudente da Lei de Responsabilidade Fiscal que autoriza o investimento de 49%, o governador José Serra segue intransigente e só pensando em fazer caixa para as grandes obras de visibilidade política eleitoral a fim de tentar ser presidente em 2010.

Os mais de 40 milhões de habitantes do nosso Estado, que tanto necessitam de uma polícia profissional, competente e bem remunerada, exigem investimento em segurança, que só existirá se houver a valorização dos seus verdadeiros protagonistas: os servidores da Segurança Pública.



*Carlos Giannazi é deputado estadual e líder do PSOL na Assembléia Legislativa

alesp