Abaixo o mérito !

OPINIÃO - Milton Flávio*
14/02/2005 15:59

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A esta altura da peleja é difícil encontrar alguém que, em não sendo petista juramentado (de carteirinha ou holerite), ainda não se tenha dado conta de algumas das principais, por assim dizer, características do Partido dos Trabalhadores: a tendência ao autoritarismo e a aversão ao mérito. Entende-se. Quem não tem competência, ao contrário do que diz o dito, se estabelece, sim. Mas perde o sono engendrando medidas corporativas, autoritárias, para não abrir mão da fatia do poder (ou dos benefícios) que ora lhe cabe.

Estudar dá trabalho. Labutar, também. Usar o conhecimento de que não se dispõe, por mera preguiça, para fazer o que precisa ser feito, é algo que não dá certo em canto algum. Daí a vocação do governo Lula por cotas, conselhos e medidas afins. Em nome dos pobres, claro, criam-se cotas - desde que caiba aos conselhos dominados pelos "companheiros" a tarefa de definir o grau de liberdade que nos caberá neste latifúndio.

Ora, o que esperar, em termos de compromisso com a liberdade, de um governo que, de tempos em tempos, tenta pôr uma cangalha no pescoço de quem produz informação e cultura? Ou alguém ainda imagina que o natimorto Conselho Federal de Jornalismo (CFJ) era obra do acaso, fruto do namoro entre sindicalistas desocupados e governantes idem?

Ali, o objetivo era claro: empregar agregados e intimidar a liberdade. Não deu certo. Assim como não deu certo - por ora, evidentemente - a tentativa de induzir produtores culturais a incluir em suas obras "cacos" cívicos, ou, melhor dizendo, de interesse do governo.

Sabemos, agora, por meio da mídia, que o governo federal julga absolutamente dispensável o conhecimento de Inglês, para quem queira ingressar na carreira diplomática. Quem diria? Itamar e Lula fizeram escola. Talvez haja alguma sabedoria oculta na decisão. Afinal, por que quem maltrata a língua de Camões teria o direito de massacrar, sem mais nem menos, o idioma de Shakespeare?

O fato é que, não contente em aparelhar como nunca se viu o Estado brasileiro, o governo federal quer agora controlar as universidades públicas e particulares. No caso das primeiras, pretende que 50% das vagas sejam, necessariamente, ocupadas por estudantes oriundos de escolas públicas, negros e índios. No caso das segundas, quer que professores, estudantes, funcionários (filiados à CUT?) e líderes comunitários sejam esmagadora maioria (80%) num conselho destinado a decidir os rumos administrativos e acadêmicos das instituições. Ora, fosse este um governo que primasse pelo incentivo ao mérito investiria, ainda que como coadjuvante, na melhoria do Ensino Fundamental e Médio e no aprimoramento do Provão, hoje mero espectro do sistema de avaliação criado na gestão FHC.

*Milton Flávio é médico e deputado estadual pelo PSDB.

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