UM TEATRO VAZIO - OPINIÃO

Luís Carlos Gondim*
22/05/2002 09:55

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Por razões que ainda merecem uma reflexão mais profunda, o Brasil acompanha a antecipação do processo político cujo ponto alto serão as eleições de outubro. Praticamente a cada semana, pesquisas eleitorais ganham destaque nas páginas de jornais e nas grandes emissoras de TV. Essas consultas refletem uma tendência de momento e servem muito mais para aferir o nível de conhecimento em relação a nomes do que propriamente a intenção de voto. Mas, devido à volatilidade do mercado financeiro e a interesses de composições partidárias, estas pesquisas anunciam que a guerra entre os candidatos a cargos majoritários começará bem antes do esperado.

Pelo que se viu das primeiras farpas trocadas principalmente entre os políticos interessados no Palácio do Planalto, corre-se o risco de transformar as campanhas em um circo em vez de palanque através do qual se discutem os grandes temas nacionais. Começam a pipocar, seguindo um modelo de metralhadora giratória, acusações de malversação do dinheiro público, improbidade, relações perigosas com caixas de campanha e outros assuntos que, embora indiscutivelmente pertinentes, escondem o debate sobre um modelo de desenvolvimento para o País. O que fazer das nossas relações com o Fundo Monetário Internacional? Como conter o crescimento das dívidas interna e externa? Quais serão os critérios de renegociação destes débitos? Como resolver problemas crônicos como a Previdência e a utilização nebulosa do dinheiro público nos fundos de pensão? Existem outras dezenas de perguntas que exigem respostas objetivas para oferecer ao eleitor o direito da comparação de projetos e o exercício pleno da cidadania nas urnas.

O País sofre com ingerências internacionais injustas, o que dificulta o equilíbrio de nossa balança e compromete as reservas imprescindíveis para a manutenção da atual política econômica. O que cada um propõe além de prometer uma dose de austeridade no tom de voz com os credores estrangeiros? De que forma será distribuída a renda com estímulo à produção sem estragar a estabilidade da moeda? E os projetos de ecoturismo e preservação do meio ambiente? Pelo que se percebe nesta análise, que é apenas superficial devido ao espaço, o País tem problemas demais a serem resolvidos e debatidos, e a campanha em nível nacional possui exatamente esta finalidade. Até agora, entretanto, os interesses partidários falaram mais alto do que as grandes angústias de uma Nação. Torceremos, todos, para que a qualidade e a profundidade se incorporem à corrida pelo poder. Antes que Lula, Serra, Garotinho e Ciro se tornem atores de uma peça teatral cômica absolutamente sem graça.

*Luís Carlos Gondim é deputado estadual pelo PV.

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