O PT QUE DIZ SIM - OPINIÃO

Milton Flávio*
31/05/2001 14:47

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Muito se tem falado e escrito sobre a ética (ou sobre a falta dela) na política. É bastante salutar que o assunto ocupe parte da atenção da imprensa e dos cidadãos em geral. Afinal, aceitar a velha máxima segundo a qual os fins justificam os meios é enveredar pelo caminho tortuoso da barbárie - um caminho que só a poucos convêm.

Feita essa constatação, não há por que admitir que a violação do painel do Senado seja coisa miúda. Além de traírem a confiança dos demais senadores, os responsáveis por aquele ato desrespeitaram a Constituição. E quem é capaz de desrespeitá-la, por mero capricho ou desejo de fazer chantagem contra alguém, é capaz de tudo, ou quase. É igualmente inadmissível que um sujeito ocupe um cargo qualquer de confiança em órgão público e se valha das informações privilegiadas e sigilosas de que dispõe para obter vantagens financeiras. Nesse jogo, a soma é sempre zero. Se uns ganham, outros perdem. Não há parto sem dor. Logo, toda a sorte de desonestidade deve ser punida. Há de se fazer todos os esforços para criar mecanismos que impeçam (ou ao menos dificultem) a ocorrência de ilícitos.

Algo, porém, chama a atenção: a pouca importância que parte da imprensa dá à incoerência entre o discurso e a prática, em especial quando essa incoerência é patrocinada por representantes de partidos de esquerda, ambos supostamente progressistas - os representantes e seus partidos. Há quem considere isso algo irrelevante, coisa menor diante de tantos outros problemas existentes no país.

O que acontece na capital é exemplar. Como se sabe, durante oito anos consecutivos, a Prefeitura esteve nas mãos de Paulo Maluf e de seu ex-afilhado Celso Pitta. Nesse período, a Câmara Municipal de São Paulo foi transformada num verdadeiro balcão de negócios, onde quase tudo e todos tinham um preço. Era rara a semana em que não surgiam novas denúncias contra os membros do bloco governista e do Executivo. Segundo elas, boa parte dos contratos era superfaturada, a fiscalização agia à sorrelfa, não se vigiava nem punia as empresas de ônibus e as companhias encarregadas de varrer as ruas e recolher o lixo, o prefeito não concedia aumento ao funcionalismo e, pior, punha as despesas com professores aposentados na conta da educação.

Tudo isso - e muito mais - era verdade e, portanto, merecia as críticas da oposição e a indignação da sociedade. E foi justamente o discurso em favor da ética que levou a maioria dos partidos políticos e dos cidadãos a apoiar a candidata do PT no segundo turno. Pois bem. Cinco meses depois da posse, o que se vê? Aumento da passagem de ônibus bem acima do que propunha estudo da FIPE; elevação de salários apenas para os que exercem cargos de confiança; proposta de criação de novos cargos de livre nomeação da prefeita (onde se costuma instalar os amigos); inclusão dos gastos com aposentadorias de professores na conta da educação; empresas de lixo recebendo integralmente pelos serviços que não prestaram. E por aí vai.

Traduzindo: o que se vê é exatamente o contrário de tudo o que se prometeu durante a campanha eleitoral. Inclusive a parceria com os seguidores de Orestes Quércia, que acaba de ser promovido pelo PT a patrono da ética na política. Ao que parece, esse é, de fato e direito, o PT que diz sim, que diz sim a tudo que diz não quando é estilingue.

*Milton Flávio é deputado estadual pelo PSDB, vice-líder do governo na Assembléia Legislativa e coordenador da Frente Parlamentar do Cooperativismo Paulista.

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