O IMPÉRIO CONTRA-ATACA - OPINIÃIO

Arnaldo Jardim*
03/06/2002 09:40

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Os terríveis atentados terroristas de 11 de setembro de 2001 nos Estados Unidos acordou o mundo para a necessidade de promover a paz e a harmonia entre os povos. Cresceu a consciência da necessidade de diminuir as desigualdades como forma eficaz de evitar a proliferação da violência.

Nesse contexto foi realizada a reunião da Organização Mundial do Comércio (OMC) em Doha, no Catar, da qual emergiu importante decisão: a abertura de uma rodada de negociações comerciais multilaterais, com ênfase para os produtos agrícolas.

A leitura foi otimista. Como a maior parte dos países em desenvolvimento são fundados em economias agroindustriais, a possibilidade de abertura de novos mercados com o conseqüente rompimento de barreiras protecionistas significaria de fato um passo rumo ao combate à desigualdade, mãe da insensatez e ponto de partida de relações conflituosas.

O tempo passou e o otimismo dá lugar a uma grande interrogação vinda da principal potência econômica do planeta, os Estados Unidos da América. George W. Bush, cowboy metido a Napoleão, dá claras demonstrações de que nada aprendeu com o 11 de setembro. Ao invés de jogar para abrir os mercados e possibilitar a ascensão econômica e social de muitos países, prefere criar um escudo em torno dos EUA, praticando uma política isolacionista e extremamente prejudicial ao equilíbrio econômico e social do mundo.

Dentre as várias demonstrações de provincianismo, a mais escandolosa é a "Farm Bill", lei agrícola que prevê para os próximos seis anos subsídios aos agricultores americanos na ordem de US$ 173 bilhões, segundo estimativas oficiais. Valores contestados, no entanto, por outros estudos como o da Confederação Nacional da Agricultura do Brasil, para quem estes recursos podem superar os US$ 412 bilhões.

O jornalista norte-americano Charles Stein, do The Boston Globe, em matéria publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, retrata bem o que isso significa: "Isso é terrível para os fazendeiros do terceiro mundo. A lei da agricultura não levará ao aumento da produção nos EUA, grande parte da qual acabará chegando aos mercados mundiais a preços artificialmente baixos. Os fazendeiros do Terceiro Mundo, especialmente os africanos, não podem competir com aqueles preços e sua renda diminuirá."

Na verdade é muito mais do que isso. A Lei Agrícola Americana fere mortalmente a possibilidade de geração de riquezas pelos países em desenvolvimento, condenando-os a uma eterna dependência dos países ricos e a uma pobreza, cujo recrudescimento é muito ruim para a paz mundial.

Estima-se que esses subsídios privarão os produtores brasileiros de soja e algodão de mais de US$ 1,5 bilhão ao ano em exportações. E o pior é que as coisas não param por aí. Além do subsídio, o governo dos EUA impõe barreiras protecionistas, na forma de cotas, tarifas etc, para uma série enorme de produtos agrícolas competitivos do Brasil, tais como o açúcar e o suco de laranja.

Essa decisão imperial dos Estados Unidos é um tiro no pé para uma ordem econômica mundial mais justa, cuja busca parecia consensual após o 11 de setembro.

É preciso resistir a este desastre, que tende a desencadear uma nova onda de protecionismo no mundo e a Europa já mostra sintomas claros nessa direção, com o reforço a um sistema protecionista que já dava sinais de debilitação.

Ao Brasil cabe um papel importante nesse sentido, uma vez que somos donos de uma competitividade imbatível no setor agrícola. Temos o maior saldo agrícola do mundo com US$ 19 bilhões de dólares, segundo dados do Ministério da Agricultura e um potencial ilimitado de crescimento agro-industrial.

Para tanto, há que se modernizar as estruturas negociais do governo brasileiro e aumentar a articulação com os setores privados. Os novos tempos exigem agressividade, agilidade e extrema competência no campo das negociações internacionais. Disso depende o desenvolvimento, o crescimento sustentado da economia brasileira e a garantia da qualidade de vida dos brasileiros.

ARNALDO JARDIM é deputado estadual é presidente estadual do PPS. Engenheiro Civil, foi secretário da Habitação (1993) e é o coordenador da Frente Parlamentar pela Energia Limpa e Renovável

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