Opinião - Quem tem medo do Trem de Alta Velocidade?


09/04/2012 09:31 | Alencar Santana*

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O governo federal vai construir o trem de alta velocidade (TAV), ligando a Região Metropolitana de Campinas, passando pelo Aglomerado Urbano de Jundiaí, pela Região Metropolitana de São Paulo, pela Região Metropolitana do Vale do Paraíba e Litoral Norte e finalmente chegando à Região Metropolitana do Rio de Janeiro.

Nessa megametrópole vivem atualmente cerca de 40 milhões de brasileiros, 20% do total da população nacional; boa parte da riqueza produzida no Brasil está nessa região. No mundo não há trecho mais propício a um trem de alta velocidade como esse.

A infraestrutura de transportes dessa região está saturada. Há quatro rodovias, que são a Bandeirantes, Anhanguera (ligando São Paulo a Campinas), Dutra (São Paulo ao Rio de Janeiro) e Ayrton Senna/Carvalho Pinto (São Paulo ao Vale do Paraíba). Nenhuma delas comporta mais aumento de tráfego e seria preciso a construção de novas faixas e outras rodovias para manter a mobilidade e integração dessas regiões.

O trem de alta velocidade é a solução do século 21 para a mobilidade intrarregional, trazendo dinamismo e um transporte ambientalmente sustentável. Ele dará uma nova visibilidade ao transporte ferroviário de passageiros. E o Brasil, através da Etav (empresa criada pelo governo federal), vai absorver a tecnologia do TAV, possibilitando que futuramente o país possa projetar e construir outras linhas.

O Japão foi o pioneiro com o shinkansen construído em 1964. Nesse período já são mais de 20 mil quilômetros de redes de alta velocidade em todo o mundo, países que não tiveram medo do futuro, liderados pela China, com 7 mil quilômetros.

O TAV vai ligar quatro aeroportos: Viracopos, Campo de Marte, Cumbica e Galeão. O aeroporto de Viracopos será futuramente um dos maiores do mundo, com estimativa de 90 milhões de passageiros por ano. Será um hub (integrador) latino-americano que só será viabilizado pelo trem de alta velocidade.

Dizer que os recursos para a construção do TAV deveriam ser melhor empregados em obras de mobilidade urbana é desinformar a opinião pública, pois não existe trade-off (uma escolha inviabiliza a outra), ambos caminham juntos, principalmente porque o governo federal estará investindo três vezes mais na mobilidade urbana do que no TAV.

No PAC da Mobilidade Urbana, embora a responsabilidade sobre o transporte urbano seja dos governos estaduais e municipais, do governo federal serão investidos mais de R$ 30 bilhões para a construção de metrôs, corredores de ônibus, veículos leve sobre trilhos (VLT), monotrilhos, bus rapid transit (BRT), entre outros. Várias cidades serão beneficiadas, como Porto Alegre, Curitiba, São Paulo, Belo Horizonte, Salvador, Recife, Fortaleza, Natal, Manaus, Belém, São Bernardo do Campo, Guarulhos, Goiânia e Curitiba, entre outras.

O governo paulista já foi beneficiado pelo governo federal, que autorizou a liberação de empréstimos no valor de R$ 14,160 bilhões junto ao BNDES, JBIC, BID e Banco Mundial para o Metrô e a CPTM. Estão previstos R$ 400 milhões do orçamento da União para a linha 18 - Bronze. Dinheiro há para o transporte público em São Paulo, está faltando gestão do governo estadual, que não consegue construir as obras que geralmente atrasam.

O governo paulista perdeu o trem da história, quando deixou de construir o Expresso Bandeirantes (São Paulo a Campinas) e o Expresso Aeroporto, que constaram no Plano Plurianual 2004-2007, do governo Alckmin, que não saíram do papel.

Dessa forma, quem deve temer o trem de alta velocidade é a ideologia rodoviarista dominante no Brasil desde a década de 1950, que tirou os trens dos trilhos em benefício do automóvel.

Talvez desejem a construção de mais uma rodovia Bandeirantes e Dutra, ao invés do TAV.

Quando o então jovem tenente Casimiro Montenegro quis fundar o Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), os argumentos de que era caro, seria desperdício de dinheiro público e o Brasil de então, agrário, não precisava do instituto são quase os mesmos usados contra o TAV. O tempo mostrou que o futuro brigadeiro tinha razão. (mlf)



*Alencar Santana é líder da bancada do PT na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo.

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