Opinião - "Omissão dos bons": a crise mais importante


19/04/2012 10:37 | Welson Gasparini*

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Segundo os mais importantes e conceituados economistas, a crise econômica atualmente vivida pelo mundo é uma das maiores dos últimos 50 anos. O amplo noticiário que tem absorvido as principais páginas dos grandes jornais e o tempo das emissoras de rádio e televisão deixa, em todos nós, uma insegurança terrível. Milhões são levados ao desemprego pela falência e insolvência dos maiores grupos econômicos nacionais e internacionais.

Todos os governantes, horrorizados com esse quadro, milagrosamente encontram nos seus Tesouros, em curto espaço de tempo, recursos inacreditáveis, colocando-os urgentemente nas mãos de grandes empresas e grandes bancos para salvá-los da falência. Vive-se uma grande emergência, mostrando a necessidade de medidas urgentes voltadas para a estabilização do quadro econômico.

Mas também, não há duvida, nosso país e o mundo vivem uma outra grande crise, anterior à atual porque, muito antes, seres humanos em quase todos os países já sofriam grandes tormentos, ceifando vidas e provocando enormes sofrimentos.

A miséria dos pobres não consegue o mesmo destaque e atenção dos governantes que a tragédia dos ricos grupos econômicos; ela acontece normalmente, sem causar grandes emoções ou provocar manchetes. Jacques Diouf, diretor da FAO, braço da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura, declarou: "Quase 1 bilhão de pessoas passam fome no mundo; em 2007, eram 832 milhões". A notícia termina informando que a ONU pretende desenvolver a meta de combate à fome mundial.

A imprensa divulga com destaque e todos se comovem, angustiam e revoltam com as quase 2 mil mortes nos confrontos entre israelenses e palestinos; onde, entretanto, está a revolta quando a ONU denuncia uma epidemia de cólera que começou em agosto e já matou 2.971 pessoas, entre crianças e adultos, no Zimbábue? É uma doença que se propaga pela água suja e pode ser facilmente prevenida com um bom sistema sanitário.

Por que os governantes não reconhecem essa tremenda crise social e também para ela acham recursos em seus Tesouros? São, portanto, dois pesos e duas medidas: para a crise financeira, medidas emergenciais; para a crise social nunca há recursos e com isto se prolonga, diariamente, o sofrimento de milhões, talvez bilhões de seres humanos.

Como disse Martin Luther King, o grande escândalo, a grande crise, é a "omissão dos bons", que se acomodam e não reagem a tantas injustiças.

Isso, evidentemente, não pode continuar; temos de refletir na possibilidade da construção de um Brasil Novo e de um Mundo Novo. Para isso, entretanto, é preciso unir as forças dos que querem tal mudança, agindo com coragem e determinação. É fundamental, portanto, a participação nessa grande luta até mesmo para reagir à omissão ou à indiferença dos bons.



*Welson Gasparini é deputado estadual (PSDB), advogado e ex-prefeito de Ribeirão Preto.

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