Opinião - Ranchos às margens dos lagos artificiais

"O que impede a formação de mata ciliar, com relação aos reservatórios das hidrelétricas, é o sobe e desce das águas"
24/04/2012 16:03 | Itamar Borges

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*Comecemos assim: ranchos à beira dos lagos artificiais. Qual o mal que essas propriedades e seus proprietários causaram ou causam à natureza, ao meio ambiente? Poderíamos dizer que absolutamente nenhum. Ao contrário, as represas artificiais, formadas para a geração de energia elétrica, causaram grande dano. Certamente, o preço que se pagou e que se paga pelo progresso.

A grande maioria dos ranchos está localizada às margens dos reservatórios formados há muitos anos. Tais reservatórios invadiram áreas ribeirinhas e alcançaram as pastagens formadas para a criação de gado. Os que eram pequenos córregos ou rios, por força da ação humana, foram transformados em imensos lagos artificiais. As empresas concessionárias da geração de energia deveriam ter sido compelidas a reflorestar as áreas lindeiras dos lagos, o que de fato não ocorreu.

Jamais poderemos admitir que os rancheiros sejam responsabilizados pela degradação ambiental; eventualmente poderão existir casos em que tenha havido irresponsabilidade do proprietário, mas isso, certamente em escala que não se pode generalizar. Nesses casos deveria se estabelecer, pontualmente, os critérios para a reparação do dano causado. Os rancheiros, de maneira geral, são verdadeiros guardiões e preservadores do meio ambiente, uma vez que cuidam da erosão, plantam vegetação nativa e frutífera, cuidam das áreas que ocupam e jamais poderiam ser vistos ou considerados como criminosos na verdadeira acepção da palavra.

Jamais os ranchos impediram a recuperação das matas ciliares. O que impede a formação de mata ciliar, na verdade, com relação aos reservatórios das hidrelétricas, é o sobe e desce das águas. Quando o reservatório está cheio, ocupa uma área que chega a atingir a linha de segurança ou quota 330 como é conhecida; nessa época, as águas se sobrepõem à vegetação, matando-a todos os anos. Depois acontece a baixa da represa, todos os anos, levando à morte os alevinos, (os pequenos peixes, nascidos da desova que ocorreu durante a cheia), mata também a vegetação, que teima em regenerar-se e, é bom que se esclareça, não se trata de árvores ou arbustos e sim da gramínea que lá existia antes do alagamento.

Esse sobe e desce não permite a recuperação de mata ciliar em grande parte do entorno dos reservatórios das hidrelétricas. Na verdade, é bom frisar: quando houve o represamento dos rios, as águas sobrepuseram-se às matas ciliares onde existiam e chegaram às áreas de pastagens, formadas com gramíneas não nativas (brachiária, gramão).

Os ranchos não impedem e nunca impediram a regeneração da vegetação da área de preservação permanente, tendo em vista que ela deixou de existir há algumas décadas, sendo inadmissível acreditar que onde há capim (brachiária ou gramão), caso deixe de ser ocupado pelos ranchos, possa nascer vegetação nativa. Pasto abandonado nunca se transformará em floresta ou qualquer outra vegetação nativa.



*Itamar Borges foi prefeito três vezes de Santa Fé do Sul e atualmente exerce o mandato de deputado estadual. É presidente da Comissão de Atividades Econômicas e coordenador da Frente Parlamentar do Empreendedorismo e da Guerra Fiscal na Assembleia Legislativa.

alesp