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Opinião: Indícios de falência do futebol paulista

"Que profissionalismo é esse de estádios vazios que obrigam os times a "vender" o seu mando de campo?"
27/04/2012 17:54 | Vitor Sapienza*

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Mais uma vez vou citar os meus encontros com os eleitores do interior, como abertura do tema que pretendo abordar. É graças a esses encontros que conseguimos informações e argumentos que serão discutidos no parlamento, e que servem para nortear as nossas ações como representantes do povo.



Em uma simples conversa na rua ou na praça, muitas vezes, ficamos sabendo que por um motivo ou outro, a seca ou a chuva, por exemplo, pode atrasar ou provocar prejuízos na safra e as consequências serão sentidas no comércio da cidade, e até mesmo em regiões como o Brás, Luz ou 25 de março, na Capital.



Se esses encontros nos permitem informações sobre política ou economia, nos trazem indícios em outras áreas que muitas vezes viram realidade. No esporte, por exemplo.Sei de um caso em que um velho esportista da capital, conversando com amigos em uma choperia de Ribeirão Preto, ficou sabendo que ali existia um jovem magro, de estilo elegante, então uma promessa do futebol da cidade. Ele não levou o assunto a sério, e tempos depois constatamos o talento do ex-jogador Sócrates, recentemente falecido. Médico, jogador, e acima de tudo cidadão consciente da realidade, ele pode ser considerado símbolo de uma geração. Uma geração que não foi campeã do mundo, mas que mostrou que nem sempre o melhor será o grande vencedor.

O assunto vem à baila agora, quando chegamos aos jogos finais do campeonato paulista de futebol da primeira divisão. Eu bem que poderia destacar o termo futebol profissional, mas prefiro omitir o destaque. Prefiro fazer algumas comparações envolvendo Ribeirão Preto, Campinas e a capital.

Não fosse talento ou sorte, ou a mistura dos dois, manifestada no último minuto da partida, e Ribeirão Preto teria os seus dois times rebaixados para a série B do campeonato paulista. O tradicional "come-fogo" não será realizado no próximo ano, porque o Comercial caiu, e o Botafogo escapou no último minuto. Por outro lado, Campinas vive o seu momento de glória, emplacando uma semifinal entre os seus principais times, Guarani e Ponte Preta. E aí vamos mostrar o outro lado.

A desorganização palmeirense e a arrogância corintiana deram lugar à frustração de seus torcedores, que terão que assistir ao desenrolar do campeonato, sem as suas equipes. E aí, vamos com a nossa costumeira perguntinha: Palmeiras e Corinthians, nocauteados, esperam pelas próximas competições, mas o que acontece com os clubes do interior, depois de eliminados do campeonato paulista?

Ninguém precisa ser um especialista para saber a resposta: eles entram em vida latente, ou param as atividades, até a outra competição. E acumulam prejuízos. Os tais times pequenos morrem ou ficam à espera do campeonato do ano que vem. E ainda estamos iniciando o segundo trimestre. Essa é a realidade do futebol do interior paulista, que infelizmente se repete em todo o país; realidade de um futebol que precisa ser repensado, ou perder o adjetivo "profissional".

Que profissionalismo é esse que os times duram apenas três meses? Que profissionalismo é esse que as equipes consideradas "pequenas", " outrora celeiro de craques " passam a comprar veteranos ou jogadores já formados, para compor os seus elencos? Que profissionalismo é esse de estádios vazios que obrigam os times a "vender" o seu mando de campo, com os olhos na torcida alheia, uma vez que não conseguem angariar público em suas cidades? Ou clubes que são obrigados a alugar estádios para espetáculos artísticos e religiosos?

Aqui, ao lado da capital, com uma população superior a um milhão de pessoas, Guarulhos não consegue ter um clube na divisão principal. Ribeirão Preto, com todo o seu poderio, por muita sorte conseguiu manter na Primeira Divisão um dos seus tradicionais times. Araraquara vive de recordações, quando a Ferroviária mostrou uma equipe inesquecível; Bauru, Presidente Prudente, Araçatuba, Rio Preto e tantas outras grandes cidades, apesar da pujança social e econômica, no futebol pouco têm para mostrar. Os tais grandes times, contam moedas para pagar as suas contas, e continuam no vermelho. E chamamos isso de futebol profissional.

Incompetência, arrogância, dirigentes despreparados, empresários desonestos, irresponsabilidade, imaturidade, Lei Pelé, falta de incentivos... As justificativas são muitas, mas a consequência é única e pode ser traduzida por uma palavra simples; simples e bastante dolorida para quem viveu e conheceu de perto o nosso futebol, principalmente o interiorano: falência.



*Vitor Sapienza é deputado estadual (PPS), presidente da Comissão de Ciência, Tecnologia e Informação, ex-presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo, economista e agente fiscal de rendas aposentado.

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