Opinião " Fora dos trilhos


08/05/2012 10:52 | Chico Sardelli*

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Uma das lembranças alegres que tenho de minha infância é quando meu pai nos levava para passear de trem até São Paulo. Desde a espera na estação de Americana, minha cidade natal, a chegada do trem, o embarque e a viagem, vendo paisagens diferentes, tudo era emocionante. Lamento que a atual geração de crianças, adolescentes e jovens tenha sido privada de tão fantástica experiência. Mais que nostalgia, entendo que a recuperação e expansão da malha ferroviária é um tema importante a ser debatido com a sociedade e os governos municipal, estadual e federal.

A Assembleia Legislativa tem cumprido um papel importante nesse sentido, com a criação da Frente Parlamentar em Defesa da Malha Ferroviária Paulista em novembro passado, coordenada pelo deputado Mauro Bragato (PSDB). Tenho acompanhado os trabalhos dessa frente parlamentar e os debates por ela promovidos, expondo a situação atual da malha ferroviária e estabelecendo perspectivas para a retomada de seu crescimento.

Muitos municípios se formaram em torno dos trilhos. Antigamente, a ferrovia era um polo gerador de desenvolvimento. Hoje, no entanto, com a falta de investimentos, passou a ser apontada como obstáculo ao desenvolvimento das cidades, pois existem ferrovias interrompendo e atrapalhando o trânsito, além de grande número de acidentes.

A malha ferroviária federal tem, em 90% de sua extensão, mais de cem anos. Outro fato agravante é que apenas 10 mil quilômetros, de um total de 28 mil, são regularmente utilizados, havendo muitos trechos em absoluto abandono. Apesar das atividades de transporte ferroviário no Brasil terem tido papel importante na história do país, hoje não vemos mais isso. Com o crescimento da indústria automobilística, priorizou-se o transporte rodoviário e pouca atenção foi dada à ferrovia. Lembramos que enquanto um caminhão transporta, no máximo, 35 toneladas, um só vagão transporta, em média, 130 toneladas. Além disso, essa modalidade de transporte representa um frete 20% mais barato do que o transporte rodoviário.

Estimativas apontam que 90% do transporte de carga no Estado de São Paulo se concentra nas rodovias. Não há malha rodoviária capaz de suportar índice tão alto. O transporte ferroviário no Brasil ainda é pouco utilizado se comparado a países desenvolvidos, como Estados Unidos, França e Japão. Nossa malha ferroviária, apesar da extensão geográfica do país, equivale a quase metade da malha ferroviária da França. Poucos produtos industrializados são transportados por essa modalidade e cerca de 75% do total da carga transportada é composto por minério de ferro.

Mesmo com os recentes avanços, ainda são muitos os desafios a serem superados para que o transporte ferroviário brasileiro alcance patamares internacionais de referência. O país precisa retomar o desenvolvimento de seu sistema ferroviário, seja de carga, envolvendo a produção mineral, agrícola e industrial, seja de passageiros, sob pena de perder não só a história, mas toda a estrutura ainda existente, possível de ser recuperada.



*Chico Sardelli é deputado estadual pelo Partido Verde.

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