Opinião " O caipira venceu


08/05/2012 11:37 | Edinho Silva*

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Deixou-nos na última semana, em São Paulo, o cantor Tinoco, da dupla Tonico e Tinoco. Com isso o Brasil perdeu um dos símbolos da cultura caipira. Aos 91 anos, gravou a última apresentação quarta-feira, para o programa de Inezita Barroso, que foi ao ar na TV Cultura neste fim de semana.

Tonico e Tinoco formaram, enquanto dupla, uma das maiores expressões da cultura advinda do processo de ocupação do interior de São Paulo, dos demais estados do Sudeste e Centro-Oeste. Uma cultura que mistura a história de índios, bandeirantes, italianos e tantos povos que, chegando ao Brasil, viram no interior a oportunidade de um futuro promissor.

As músicas caipiras eram a expressão cultural da ingenuidade do caipira, do trabalhador rural, meeiro, parceiro, que ofereceu sua força de trabalho para que o interior de São Paulo se desenvolvesse, formando a base da economia do Estado e do Brasil. Cultura tão bem sintetizada por Antônio Candido no clássico livro Parceiros do Rio Bonito.

Tonico e Tinoco foram uma das primeiras duplas a desbravar a fronteira do "caipira", entrando no circuito da grande mídia. Depois deles o Brasil olhou melhor para essa cultura, a incorporou, "modernizou", e a fez um produto de consumo de todas as massas. Chitãozinho e Xororó foram os precursores nessa nova fase da música caipira "modernizada", que, convenientemente, passou a ser chamada de sertaneja. Já que o caipira carrega tantos estigmas, principalmente aqueles que foram impostos pelo etnocentrismo das cidades, pela cultura dos barões e coronéis da economia paulista.

Mas o caipira venceu, está presente na música, resgatada de vez em sempre, até para explicar o fenômeno do tal do sertanejo (mesmo esse na maioria das vezes negando o seu DNA e sucumbindo ao descartável), presente nas artes plásticas, no teatro, no cinema; até as novelas dialogam com o "caipira".

Valeu, Tinoco, missão cumprida; você volta à base de tudo e de todos nós. Reencontre o Tonico, relembrem os bons tempos de criança nos campos de Botucatu, e cantando essa imensidão ponteie a viola, escreva versos e ilumine a nossa hoje entristecida, e muitas vezes medíocre, cultura.



*Edinho Silva é deputado estadual e presidente do PT/SP.

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