Opinião - Facebook e os sinais vitais de pacientes em hospitais


17/05/2012 16:36 | Celso Giglio

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*Um certo mentalista, afamado, diz num dos seus livros que aquilo que dizem da gente é um direito de quem nos observa. Refiro-me a Osho. Ele mesmo alvo de um sem-número de críticas no país de origem e nos países por onde andou.

Nada tenho de mentalista no sentido esotérico. Minha formação de médico fez um trabalho de base na minha preparação como ser político. E isso levou tempo, como ocorre com tudo que demanda maturação e refinamento.

Vi o telex ser substituído pelo computador, assim como vi aparelhos médicos pesados e grandes tomarem outra forma e outra leveza na cabeceira do paciente. E vi surgirem os meios modernos de comunicação, com seu poder de alargar horizontes e, ao mesmo tempo, talvez em maior escala, arrebentar privacidades.

Não somos dotados, nós, seres humanos, da capacidade de ver grandes resultados que somente podem ser aquilatados depois de 100 ou 200 anos. Não foi ainda no "ontem" do século 19 que certas capacidades psicomotoras humanas eram tidas como sinal líquido e certo de bruxaria? Temos uma vida que nos ocupa demais com os fatos do dia a dia. Com isso quero dizer que admiro aqueles, modernos, que conseguem passar horas e horas diante de um computador.

Mas se querem saber, eu ainda fico mais admirado pela simples possibilidade de um veículo pesado e barulhento voar, o avião. E todo avião é um milagre da Física e da Matemática.

E vem precisamente da Matemática os bits que tornam possível a realidade dos meios modernos de comunicação. Sei que ao escrever cada palavra coloco em ação um conjunto de dados que os matemáticos chamam de código binário e de algoritmos. É a modernidade eletrônica em seu vigor, modernidade que nenhum povo viveu antes.

Não é preciso ter uma consciência matemática, se existe tal coisa, para perceber que os bits que alimentam o Facebook carregam toneladas de esperanças, tristezas, perdas e ganhos de todo um universo de gente. Por isso, grandes marcas fabricaram carradas de mensagens prêt-à-porter para melhor forrar seus ganhos.

A grande montadora de automóveis GM, por exemplo, decidiu interromper seu plano de investimentos no Facebook por não ter obtido resultados de vendas esperados. A empresa parece ter percebido o limite, o campo movediço das esperanças e anseios humanos que nem sempre comportam preço a quilo ou a metro, atributos movidos a cor e a comodidades velozes. Mas o que dizer quando o preço estimado da empresa Facebook é de 100 bilhões de dólares, valendo mais do que o McDonald"s, uma montadora de alimentos?

Talvez seja uma contradição minha, de médico e de homem público, mas a decisão da empresa também é um sinal de esperança, assim como é um sinal de esperança a própria existência do automóvel. De alguma maneira, as pessoas que alimentam o Facebook estão dizendo que o carro não é o berço do primeiro embalo, nem o substituto do carrinho de bebê.

A esperança mesmo, para mim, repito, médico e homem público, está na mesma página da Folha de S. Paulo em que se noticiou sobre a desistência mercadológica da GM. Trata-se da reportagem, modesta quase, que tem por título "Software que reduz fila em hospital leva PE a final de copa".

Noticia-se que o time pernambucano Mangue Digital irá representar o Brasil na copa mundial de desenvolvedores de software. Os nove integrantes do time desenvolveram um aparelho que monitora os sinais vitais de pacientes em hospitais. Esse mesmo time já ficou em segundo lugar no ano passado, levando o Brasil à frente de 180 países participantes.

A GM percebeu um limite. O Mangue Digital percebeu o campo e a necessidade de superar limites. Disso somos feitos. Um grande abraço a todos que me acompanham no Facebook e na vida.

* Celso Giglio é deputado estadual pelo PSDB

"Esperanças e anseios humanos nem sempre comportam preço a quilo ou a metro, atributos movidos a cor e a comodidades velozes"

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