Faz alguns anos, promovemos a decisão da Taça Vitor Sapienza de Futebol Varzeano no Estádio Palestra Itália, gentilmente cedido pela diretoria da Sociedade Esportiva Palmeiras. Naquele dia reunimos quase 5 mil torcedores de dois times amadores, o Mangaba, da Casa Verde, e Nações Unidas, do Tremembé. Na véspera, em Porto Alegre, Flamengo e Grêmio conseguiram levar pouco mais de 2 mil torcedores ao Estádio Olímpico. Estamos usando o exemplo para colocar em pauta algumas exigências das entidades que dirigem o nosso esporte profissional. Sei de casos em que alguns times, mesmo tendo condições de ascender à série imediatamente superior à que disputaram, preferiram permanecer onde estavam porque, se mudassem para a série acima, teriam que aumentar a capacidade de seus estádios. E não dispunham de recursos para as ampliações exigidas. Em outros casos, de olho na segurança e no conforto dos torcedores, essas mesmas entidades limitam o número de espectadores, promovendo um "encolhimento" na capacidade de público nos estádios. Nesse "estica e encolhe", vamos questionando a média de público que frequenta os nossos estádios de futebol. E isso mostra números frustrantes. Quantas vezes se consegue reunir 40 mil, 50 mil torcedores em um estádio de futebol? Em um campeonato com uma centena de jogos, certamente em nem em 10% desses jogos teremos um público desse porte. Não seria exagero de nossa parte afirmar que a baixíssima média de público abre chances de que até a velha Fazendinha ou o Rodolfo Crespi, na Mooca, poderiam receber alguns jogos do Campeonato Paulista, ou até do Brasileiro. Com essa média de público, por que não se programar rodadas duplas, reunindo clássicos e jogos de menor importância, sempre com equipes de menor expressão? Por que manter rodadas às dez da noite, com a TV ditando normas, se o grande público prefere jogos bem mais cedo, principalmente nas grandes cidades? Por que não voltarmos com partidas nas manhãs de domingo, principalmente aquelas que notadamente atraem menor público? Como classificar de profissional um esporte administrado clara e simplesmente de maneira amadora? Por que construirmos estádios com capacidade superior a 50 mil, 60 mil lugares, se a lotação completa ocorre apenas uma ou duas vezes por ano? E, enquanto isso, ficam barrando equipes menores, exigindo a expansão de estádios de pequeno porte, apenas porque o time passou para uma série mais elevada, embora nem sempre seja a mais competitiva. Não seria essa uma punição ao vencedor, quando ele deveria ser premiado? O que está sendo delineado não nos permite grandes projeções, grandes mudanças. O campeonato mundial está aí, batendo às nossas portas, incentivando e obrigando o país a construir grandes e modernos estádios, de modo a atender às exigências da Fifa. Mas e depois da festa, qual será o saldo? A realidade é que teremos estádios modernos, de manutenção cara, e público insignificante, o que nos permite afirmar que não teremos como arcar com os custos de manutenção. E o que fazer para escapar disso? O nosso amadorismo nos impedirá de responder, porque há muito tempo estamos sendo iludidos por algo tão útil como pescoço em mula sem cabeça... * Vitor Sapienza é deputado estadual (PPS), presidente da Comissão de Ciência, Tecnologia e Informação, ex-presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo, economista e agente fiscal de rendas aposentado.