Opinião - "Quem tem carretel não perde a linha", ou as alianças do PT


29/06/2012 09:34

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Geraldo Cruz*

Recentemente, o noticiário foi agitado pelo anúncio do apoio do Partido Progressista (PP) à candidatura de Fernando Haddad. Na verdade, o burburinho não foi exatamente o apoio anunciado, uma vez que o partido há muito faz parte da base aliada do governo federal e, como todos os partidos aliados, tem filiados e lideranças trabalhando na administração liderada pelo PT.

O que alimentou as editorias de política foi o registro fotográfico de um aperto de mão entre o ex-presidente Lula e o deputado federal Paulo Maluf que, segundo a imprensa, selou o acordo. Depois da ampla divulgação da foto, as pautas foram aquecidas pela desistência da deputada federal Luiza Erundina (PSB) de seguir como vice na chapa de Haddad, e a repercussão do fato - leia-se o trabalho de jornalistas, orientados por seus editores a telefonar para intelectuais, políticos e outros jornalistas perguntando sobre o "fato".

A observação do noticiário não permite entender qual é, verdadeiramente, o foco das reportagens, artigos e piadas produzidas. Não pode ser a política de alianças estabelecida pelo PT, que conta com partidos historicamente identificados com a esquerda e outros de direita. Sim, ao contrário do que afirma o deputado Maluf, esquerda e direita ainda existem como marcos que delimitam concepções sobre o papel do Estado e, consequentemente, as formas de lidar com as tensões e conflitos de interesses entre os diversos grupos sociais.

A política de alianças do PT, amplamente debatida, criticada e justificada quando assumimos o governo federal, não é segredo para ninguém. E a lógica é mais ou menos simples: a democracia permite que todos os segmentos sociais estejam representados nos espaços de poder. Em virtude da herança histórica brasileira, marcada pelo coronelismo, escravismo, patrimonialismo e machismo, estes espaços ainda são dominados por homens, brancos, oriundos ou financiados por fortes grupos financeiros, eleitos por uma maioria de pessoas pobres.

No governo federal, o PT assumiu publicamente a opção de conceder espaço no governo em troca de apoio no Congresso Nacional. E tem usado este apoio para aprovar leis que beneficiam a maioria da população, consequentemente, as pessoas pobres.

Foi esta opção que permitiu estabelecer financiamento público para creches e educação de jovens e adultos; a garantia de vagas em universidades para estudantes de escolas públicas; a ampliação de programas de acesso à renda; o combate ao racismo e à violência contra a mulher, e tantas outras medidas que tornaram o Brasil um país menos desigual, mais justo e com um futuro promissor.

Finalmente, para aqueles que tentam confundir a população, afirmando que a ampliação do arco de alianças significa o abandono de nossos princípios, lembro um samba imortalizado por Beth Carvalho: "Quem tem carretel não perde a linha".

O carretel do PT foi solidamente construído pelas lutas dos movimentos sociais e setores progressistas e de esquerda da sociedade, o que nos permite ampliar o arco de alianças, disputando a formulação de consensos com diferentes setores, sem perder a linha ideológica.



*Geraldo Cruz é deputado estadual pelo PT.

alesp