Opinião - Investimentos na zona leste


06/07/2012 16:54 | Vitor Sapienza*

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É evidente que não concordamos com o fato de o Poder Público injetar dinheiro na construção de estádios de futebol, principalmente quando temos outras prioridades. Já falamos no assunto, e agora ele serve apenas para abrir o nosso comentário sobre o que estamos ouvindo. Não são poucos os que batem na tecla de que a construção do estádio corintiano, em Itaquera, será o grande incentivador do crescimento na região.

Não se discute que o eixo Penha-Itaquera-Guaianases sofrerá modificações. No entanto, para quem acompanha o que aconteceu na região, desde o início dos anos 1990, a coisa não é assim tão simplista.

Uma região que inicialmente se baseava na plantação de frutas, e fazia parte do "setor-dormitório" da capital, passou a sofrer modificações quando criamos o polo industrial, iniciativa do então deputado Roberto Gouveia, com projetos mais ou menos idênticos de outros deputados, entre eles coronel Erasmo Dias e João Leiva, tendo eu coordenado a reunião com eles, quando chegamos a uma conclusão comum.

Não foram fáceis as discussões no Parlamento paulista, para a implantação do polo industrial. Naquela ocasião, assistíamos a implantação de grandes conjuntos habitacionais e a crescente urbanização, o que aumentou em muito o preço dos terrenos em toda a região. Ao mesmo tempo, isso inviabilizava a presença dos plantadores de frutas que, aos poucos se transferiram para a cidades próximas às regiões de Jundiaí e Atibaia.

O próprio nome da principal artéria da região, a avenida Jacu-Pêssego, é prova disso. Somatória do nome do córrego do Jacu com a estrada do Pêssego, a avenida é o principal corredor até o Rodoanel e simples lembrança do tempo das chácaras, que mais dias menos dias poderá mudar de nome.

Aos poucos, o polo industrial uniu empresários que passaram a reivindicar investimentos na região que, queiram ou não, embora ainda longe do ideal, tem vida própria. O governo investiu em diversos setores e são nítidas as alterações, desde o transporte coletivo ao saneamento básico.

O conceito de bairro-dormitório vai, aos poucos, sendo deixado de lado. Todo esse trabalho, do governo e da iniciativa privada joga por terra os argumentos dos que desconhecem o que foi feito, e a garra e espírito de luta da população que nunca poupou esforços na hora de reivindicar melhorias para a região.

Assim, a presença de um estádio poderá atrair novos investimentos, no entanto, não podemos ser tão otimistas a ponto de dizer que todos os problemas serão resolvidos. Itaquera e Guaianases integram uma região mais populosa que muitas capitais, não tem nem terá condições de ser alterada do dia para a noite. No entanto, os primeiros passos foram dados há algumas décadas e, certamente, passa a ser alvo de várias outras iniciativas.

Resta saber se os incentivos fiscais serão suficientes para atrair novos investidores para a região. No passado conseguimos atrair empresas, sem essas promessas. Torcemos por isso, embora tenhamos consciência de que Copa do Mundo é um ótimo negócio, principalmente para a Fifa e para os seus amigos.

*Vitor Sapienza é deputado estadual (PPS), presidente da Comissão de Ciência, Tecnologia e Informação, ex-presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo, economista e agente fiscal de rendas aposentado.

"Não se discute que o eixo Penha-Itaquera-Guaianases sofrerá modificações. No entanto, para quem acompanha o que aconteceu na região, desde o início dos anos 1990, a coisa não é assim tão simplista"

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