Opinião - Sorte ou talento?


13/07/2012 10:58 | Vitor Sapienza*

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Não são poucas as vezes que ouvimos falar que este é um país abençoado. E sempre o adjetivo vem acompanhado de exemplos que, sem notarmos, fazem parte do nosso cotidiano: água em excesso, uma fantástica variedade de fauna e flora, um imenso potencial turístico, riquezas naturais incalculáveis, ampla extensão territorial, um clima favorável, topografia invejável, entre outros.

Temos que admitir que a natureza foi, para nós, a fada milagreira que todas as nações sonham ter. E não se discute que, certo ou errado, vamos explorando as nossas riquezas e "tocando o barco", de modo que, embora ainda longe do ideal, em alguns aspectos conseguimos manter a rota.

E o "longe do ideal" pode ser detectado quando falamos do turismo, por exemplo. Já no setor petrolífero, outro exemplo que podemos citar, embora tenhamos atingido a excelência em extração e refino, muito há que ser feito, principalmente agora quando as descobertas na região do pré-sal nos colocam entre as mais importantes nações do mundo.

Não bastasse a nossa capacidade de explorar petróleo em grandes profundidades, estamos nos preparando para passos ainda maiores. No entanto, temos que ficar ainda mais atentos aos riscos. Como país "abaixo da linha do Equador", certamente não receberemos o mesmo tratamento que outras nações situadas no hemisfério norte, no caso de algum acidente ecológico.

O alerta é para o fato de que, pela primeira vez, estaremos buscando petróleo a uma profundidade ainda não experimentada, no mundo. E a principal maneira de se evitar acidentes é investir pesado em segurança, equipamentos e na formação profissional. Também não vamos, aqui, contestar ou condenar o que dispomos, em se tratando de segurança. Mas tudo indica que teremos necessidade de mão de obra altamente especializada. E é exatamente aí que a coisa pode pegar.

Bem sabemos que estão surgindo cursos especializados em petróleo e em tecnologia de extração. Como a exploração ainda deverá demorar, será que não corremos o risco de formar profissionais a curto prazo, para um mercado de trabalho que se abrirá a médio prazo? E até que se possa absorver essa mão de obra, o que poderá acontecer com esses profissionais? E até que se inicie de fato a exploração, como absorver esses novos profissionais? Será que essa demora - destaque-se, sem alternativas - não vai incentivar a formação de pessoal e a consequente fuga de cérebros?

A natureza foi generosa para com o nosso país. No entanto, mais que dar valor à dádiva que nos privilegiou, precisamos dar a nossa contribuição, de modo a administrar esse somatório de recursos, implantar o uso racional dessas riquezas e fazer com que toda a nação se beneficie disso.

A receita pode não ser tão simples, mas os ingredientes são conhecidos. Isso vai exigir investimentos em qualificação profissional, medidas de retenção no país dessa mão de obra, aprimoramento tecnológico e nacionalização de tecnologia. Em síntese, a acirrada competição internacional exige posturas cada vez mais inteligentes. E, como até agora tivemos mais sorte do que talento, precisamos mudar o quadro, porque milagres podem se repetir; erros, jamais!



*Vitor Sapienza é deputado estadual (PPS), presidente da Comissão de Ciência, Tecnologia e Informação, ex-presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo, economista e agente fiscal de rendas aposentado.

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