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Opinião - Olimpíadas: imagens fabricadas

"Atletas anônimos se emocionam mais pelo esforço particular que pelo amparo que receberam"
03/08/2012 15:45 | Da assessoria do deputado Vitor Sapienza*

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Os jogos olímpicos bateram à porta e entraram. E a televisão manda, a todos os cantos do mundo, imagens de atletas que buscam resultados que vão, muitas vezes, além dos limites que a condição humana impõe. É hora de competição, quando as carências ficam de lado e ignora-se o abandono a que muitos de nossos atletas foram relegados, no intervalo entre uma olimpíada e outra. É claro que não estamos falando dos badalados atletas do nosso famoso " porém nunca rico " futebol. Sobre isso reservamos um parágrafo, à frente, na humilde opinião deste torcedor.

A tal "pátria de chuteiras" dá lugar a outras modalidades, sempre mascarando verdades que fingimos ignorar. Na hora do resultado, no entanto, nossa cobrança é uniforme, pouco importando se o atleta recebeu apoio oficial ou se foi mantido graças ao "paitrocínio". Atletas anônimos perante a população se emocionam, muitas vezes mais pelo esforço particular que pelo amparo que receberam " e que levaram até a Olimpíada. É nessa hora que vemos cronistas despejando ufanismo nos microfones, quando pouco ou nada fizeram para que nossos atletas tivessem efetivo apoio. E isso, infelizmente, atinge a classe política, os empresários e aqueles que, mediante escolha nem sempre condizente com a condição do cargo, integram a comissão que cuida do assunto.

Falemos agora sobre futebol. Chegou a hora da disputa, e quem acompanha o que acontece no futebol brasileiro certamente deposita as suas fichas em três ou quatro nomes que, devidamente orientados por marqueteiros, tentam trazer ao país o sonhado título olímpico, tantas vezes tentado e sempre frustrado. Destaque-se que o termo "devidamente orientados por marqueteiros" não está solto no contexto " integra a rotina do nosso futebol. A falsa vibração na hora do gol, a simulação de falta, o fingimento, a preocupação com o visual, a constante mudança na imagem e a postura, tudo vai a campo, e muitas vezes o caráter da disputa é deixado de lado, traçando-se uma imagem que será parâmetro na hora do contrato publicitário. O esporte, em si, é mero coadjuvante.

Não vamos aqui condenar quem se utiliza desses subterfúgios para vender seu peixe, para se enriquecer no esporte. O que criticamos é a conivência de pessoas que, direta ou indiretamente, participam do processo, fabricando e vendendo imagens muitas vezes irreais. E isso é facilmente notado no comentário, que enaltece virtudes de determinados atletas, talentos que muitas vezes nos colocam na condição que questionadores.

Não são poucas as vezes em que fazemos " e ouvimos " a simplória pergunta: será que estamos vendo o mesmo jogo? Ou será que apenas eles entendem do assunto? A parceria caminha para a conivência e, em larga escala, coloca-nos como o principal celeiro mundial de atletas. Mas será verdade tudo isso? Ainda somos os melhores do mundo? Seremos de fato os melhores do mundo quando usarmos essa mesma ferramenta para promover os esportes amadores, aqueles cujos praticantes aparecem na mídia só quando são cobrados, participando de grandes eventos.

Terminados os jogos de Londres teremos seis anos para colocar em prática uma política séria, para evitar que continuemos cobrando de atletas sem apoio os mesmos resultados de outros, badalados, protegidos e tratados como deuses. Certamente, depois disso, esqueceremos a corriqueira pergunta de nossos dias: estamos assistindo ao mesmo jogo?



*Vitor Sapienza é deputado estadual (PPS), presidente da Comissão de Ciência, Tecnologia e Informação, ex-presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo, economista e agente fiscal de rendas aposentado.

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