Opinião - Funções e competências


13/08/2012 11:41 | Vitor Sapienza*

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É antiga a estória de um sujeito que perguntava ao caçador o que ele faria, em determinadas situações, quando se defrontasse com uma onça faminta. E a cada justificativa ou alternativa oferecida pelo caçador, o amigo arrumava uma situação cada vez mais embaraçosa, colocando em perigo a vida do amigo. Depois de tantas situações perigosas, o caçador perguntou se o sujeito era seu amigo ou amigo da onça. A estória foi contada assim, de maneira direta, e sei que muitos já ouviram algo semelhante. Ela está sendo usada, agora, para ilustrar alguns fatos corriqueiros no nosso país.

Houve um tempo em que as pessoas que dispunham de dinheiro para aplicar, compravam linhas telefônicas, e alugavam. Enquanto isso, a maioria da população esperava anos a fio, numa fila interminável. Uma linha telefônica, no centro de São Paulo, por exemplo, custava menos do que outra, na periferia. E era exatamente ali, onde imperavam os tais investidores.

Em São Paulo, a antiga TELESP patrocinava um verdadeiro esquadrão de basquetebol, enquanto a população esperava pelo tão sonhado telefone. E isso era alvo de constantes críticas, sempre ignoradas pela empresa. Vieram novos tempos, e para a contrariedade de determinados grupos, ocorreu a privatização. Não vamos falar das conseqüências, mas basta vermos a quantidade de telefones existentes, os avanços ocorridos no setor de comunicações e o que temos de novidades.

É claro que, simultaneamente ocorreu um avanço mundial, mas nem por isso vamos ignorar o que aconteceu no mercado interno. É evidente que ocorreram erros, abusos e isso exigiu, por parte do governo, a criação de agências reguladoras, tanto de comunicações, como de energia, saúde, transportes.

No entanto, a atual postura do governo, cobrando melhores resultados de algumas empresas de telefonia, mostra que, apesar dos avanços, do elevado número de telefones celulares nas mãos da população, algo não caminha bem. E se não caminha bem, temos que repetir a pergunta tão rotineira em nossa São Paulo: o que fazem essas agências? Se foram criadas para defender os interesses da sociedade, como chegamos ao ponto de tantas reclamações? Será que estão destinadas a falar "amém" às decisões previamente acertadas?

As perguntas são cabíveis, uma vez que o descontentamento é visível e redundante. E, guardadas as devidas proporções, pode se encaixar perfeitamente a fabula do caçador: "afinal, você é meu amigo ou amigo da onça"?



*Vitor Sapienza é deputado estadual (PPS), presidente da Comissão de Ciência, Tecnologia e Informação, ex-presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo, economista e agente fiscal de rendas aposentado.

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