Opinião: Exageros eleitorais

Não cabe ao vereador, por exemplo, prometer aumentar a segurança em sua cidade; muito menos aumentar o número de funcionários em um hospital
16/08/2012 16:24 | Vitor Sapienza*

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Nos próximos dias veremos a intensificação da campanha política para a sucessão municipal em todas as cidades brasileiras, além da eleição para vereadores. E, a exemplo dos anos anteriores, a campanha no rádio e na televisão terá os mesmos erros e questões infundadas, algumas por falta de informação, outras até por má intenção dos candidatos.

E quando a mensagem é incompleta, ela pode provocar distorções, criar falsas imagens, bem diferentes do verdadeiro objetivo a ser atingido. Muitas vezes por erro, distração ou ingenuidade, o candidato faz promessas totalmente descabidas, chegando até mesmo a propor soluções que nada tem a ver com o cargo que pretende ocupar.

Não cabe ao vereador, por exemplo, prometer aumentar a segurança em sua cidade; muito menos aumentar o número de funcionários em um hospital. Já ouvimos um candidato de uma pequena cidade prometer que aumentaria o salário dos aposentados...

O mesmo erro acontece quando da eleição de deputados. Não são raras as vezes que, levados pela emoção da campanha, o candidato repete os mesmos erros, muitas vezes prometendo coisas que vão muito além do cargo. A função do legislador é, numa linguagem simples, criar leis no seu município, auxiliar e vigiar o Executivo, cuidando da coisa pública. Tudo dentro da lei, respeitando-se a lei maior que é a Constituição.

O custo das promessas impensadas acaba provocando desgaste no candidato e, de maneira indireta, na classe política como um todo. Esses erros se transformam em "prato cheio" para alguns setores da mídia, que não hesitam em fazer as suas cobranças. E o resultado dessas cobranças, muitas vezes, joga no mesmo balaio pessoas que não se enquadram nesse perfil. Esse nivelamento "por baixo" prejudica a imagem de quem nada tem a ver com essa postura, mas que acaba atingido.

Felizmente a tendência é a redução desse tipo de comportamento, fruto da conscientização do eleitor, o que começa a exigir mudanças por parte da classe política. Com isso, ganha a democracia, ganha o processo eleitoral, ganha a sociedade como um todo. Na medida em que a classe política começa a repensar a sua postura, a mudança ocorre de alto a baixo, e uma das consequências é a seriedade no trato da coisa pública.

Política é paixão, é arte, é aceitar as diferenças, as limitações, os acertos, o talento, as carências. É praticar a democracia e fazer dela um objetivo. É criticar e aceitar a crítica. Política é zelar pelo direito e ideias dos demais, mesmo quando não concordamos com elas. É exatamente isso que devemos fazer, tanto no poder como na luta por ele. Até porque, à medida que o processo democrático se aprimora, traz consigo algo muito simples, a consciência. E é exatamente isso que pune determinados exageros e colocações absurdas, feitas durante a busca pelo voto.



* Vitor Sapienza é deputado estadual (PPS), presidente da Comissão de Ciência, Tecnologia e Informação, ex-presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo, economista e agente fiscal de rendas aposentado.

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