Opinião - Argumentos escolares


23/11/2012 10:43 | Vitor Sapienza*

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Nos constantes contatos que mantemos com a população, sejam eles nas visitas ao interior ou na capital, tanto na Assembleia como nos lares que visitamos, sempre recebemos sugestões, críticas e análises que nem sempre são condizentes com a realidade, mas não deixam de refletir o que pensa o eleitor, o que pensa a nossa sociedade.

Graças a esses encontros nós, parlamentares, conseguimos argumentos e justificativas para os debates em plenário, ou matéria-prima para projetos de leis, indicações ou moções que poderão ajudar ou corrigir falhas da legislaçã, ou na administração de nosso Estado.

Não é a primeira, nem será a última vez que ouviremos dos pais que não conseguem entender como os filhos saem da escola sem a devida formação, ou sem o preparo que eles, pais, julgam que seria o ideal para enfrentar os desafios da próxima série da vida escolar. A crítica é contra a progressão continuada, sistema em que não é exigido um exame no final do ano para que o aluno "passe", ou seja, esteja em condições de frequentar aulas em um estágio mais avançado.

Esses pais, assim como a maioria dos nossos deputados e governantes, foram educados pelo "sistema antigo". E eu, particularmente, acrescento um "graças a Deus". Sim, quero destacar que graças a Ele nós tivemos uma formação diferente, o que mostra uma formação mais apurada do que aquela oferecida atualmente aos nossos jovens.

Não é necessário muito esforço compararmos as facilidades disponíveis aos nossos jovens, nem sempre bem aproveitadas. Quem viveu outros tempos sabe das dificuldades que tivemos que enfrentar. Telefone era um luxo, disponível a um segmento raríssimo da sociedade, pouquíssimas bibliotecas, dificuldade dos meios de transporte. Devemos reconhecer que tivemos algumas vantagens: liberdade para circular pelas ruas, menos violência, professores motivados, melhor remunerados e norteados por algo que deveria ser uma obrigação, o sacerdócio.

Hoje, apesar das facilidades da Internet, dos computadores, dos tablets, dos telefones celulares, da quantidade de bibliotecas, dos meios disponíveis nas salas de aula, estamos formando jovens que sabem pouco de um muito disponível. O imenso mosaico cultural disponível é pouco aproveitado, e o resultado pode ser visto na hora do ingresso na universidade, nas aberrações registradas nas redações, no baixo nível cultural de jovens alheios às inúmeras oportunidades ao seu dispor, geralmente sem precisar sair de casa.

Por mais que os educadores tentem mostrar os benefícios da tal progressão continuada, confesso que fica difícil aceitar os seus argumentos. O nosso parâmetro é outro. Não podemos abrir mão do princípio de que deve prevalecer o mérito do esforço, da dedicação, do talento, do estudo. O processo começa errado no mérito, quando pune o esforço, a dedicação, o empenho, e atinge o auge na consequência, ou seja, no andar superior: a tal necessidade de implantação de cotas para o ingresso na universidade, outra aberração caracterizada pelo paternalismo populista.



*Vitor Sapienza é deputado estadual (PPS), presidente da Comissão de Ciência, Tecnologia e Informação, ex-presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo, economista e agente fiscal de rendas aposentado.

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