Opinião - São Paulo, um Estado em transe


29/11/2012 11:45 | Marco Aurélio*

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Os números são alarmantes: mais de 300 mortes violentas em cinco meses no Estado de São Paulo. E para além das estatísticas, o que temos? Vítimas de um sistema falho de segurança pública, que não exime sequer aqueles que deveriam proteger a população " já são mais de 90 policiais mortos desde que a guerra urbana começou.

Quando analisamos os homicídios dolosos (intencionais), a escalada da violência é clara. Em outubro deste ano houve 176 casos dessa modalidade de crime - uma alta de 92,3% em relação ao mesmo período de 2011 (82 ocorrências).

São meses de convivência do povo paulista com notícias sobre madrugadas tomadas por violência, em que o número de vítimas cresce a cada dia.

Após todo esse clima de guerra, o governador Geraldo Alckmin (PSDB) resolveu fazer mudanças na Secretaria de Segurança Pública. Saiu Antonio Ferreira Pinto, apesar de toda a defesa do governador sobre o seu trabalho, e entrou Fernando Grella Vieira. Houve troca também nos comandos das corporações: Luiz Maurício Souza Blazeck é o novo delegado-geral, no lugar de Marcos Carneiro Lima, e Benedito Roberto Meira assume o Comando Geral da PM, substituindo Roberval França.

A situação de Ferreira Pinto ficou bem fragilizada quando o PCC (Primeiro Comando da Capital) passou a executar policiais, numa resposta às mortes dos integrantes da facção criminosa durante atuação da Rota (grupo de elite da Polícia Militar de São Paulo).

A troca de comando na área de segurança veio após muitos "desmentidos" por parte do governo estadual sobre a situação da violência. Como se com as negaças o problema deixasse de existir. Mas os fatos e as notícias diárias sufocaram as versões oficiais.

Além dos crimes em si, recentemente, a Corregedoria da PM abriu investigação sobre um possível vazamento de informações sigilosas do 35º Batalhão de Itaquaquecetuba, com informações de policiais, como telefones e endereços, que estariam sendo vendidas ao crime organizado.

E essa articulação começa dentro dos presídios, onde chefes de quadrilhas determinam execuções do lado de fora. A Secretaria de Segurança Pública, porém, admite que não consegue impedir o uso de celulares por parte de presidiários, embora recuse usar um rastreador do Departamento Penitenciário Nacional (Depen), que já demonstrou eficiência.

Dois fatos ainda faltam esclarecimentos: um é que até a data de hoje o Governo de São Paulo gastou menos de 45% do orçamento previsto para segurança, num ano de pleno crescimento da violência, e o outro foi a demora do governador em aceitar o auxílio oferecido pelo governo federal para a área. Por ser um problema complexo e de raízes profundas, é necessário ter humildade e sabedoria para admitir que toda a ajuda é importante na hora do enfrentamento ao crime.

Em seu discurso de posse, o novo secretário de Segurança Pública afirmou que não fará ruptura com o modo de administrar a pasta, mas que vai buscar aprimorar o trabalho executado até agora. Numa clara resposta às críticas sofridas pelo seu antecessor, Fernando Grella promete combate ao crime organizado, mas "com respeito irrestrito aos direitos humanos".

Assim esperamos que seja, pois a sensação de segurança perpassa também pelo sentimento de que a ordem ocorre acatando os mecanismos legalmente instalados, e não por força de uma lei paralela, que tende a querer calar " ou até mesmo exterminar " em julgamento sumário, fazendo (in)justiça com as próprias mãos, trabalhadores, inocentes e pessoas que foram subtraídas do seu direito a um justo julgamento. Isto tem um nome: barbárie!



*Marco Aurélio é deputado estadual pelo PT

alesp