Opinião - Consumismo e endividamento


02/01/2013 11:23 | Vitor Sapienza*

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Com as facilidades de crédito ocorridas nos últimos anos, o consumidor brasileiro se deixou levar pelas intensas campanhas publicitárias, e não vacilou na hora de ir às compras. Ao mesmo tempo, outra camada da população, os idosos - que agrupa uma grande camada de aposentados e pensionistas -, entrou em cena, e, incentivada pelo próprio governo, aderiu ao crédito consignado, iniciando um processo de endividamento muitas vezes desnecessário.

Agora, com a chegada das festas de final de ano, e acentuado apelo ao consumo, típico da época, tudo indica que o processo se repetirá, e as consequências disso deverão ser sentidas a partir de fevereiro, quando o dinheiro do 13º salário terá acabado, e o incauto endividado deverá "cair na real", como dizem os mais jovens. E eles estarão engordando a lista de inadimplentes, nessas instituições que protegem o comércio.

Ao contrário do que ocorria no passado, quando desde a infância o cidadão era incentivado a poupar, o que temos hoje é uma juventude voltada para o agora, para o momento. Vive-se o agora como se não houvesse amanhã, como se o futuro fosse algo inatingível, algo distante, inimaginável. Vive-se com intensidade, e consome-se no mesmo ritmo, na mesma cadência.

E o hábito de consumo, que faz girar a economia, nem sempre usa critérios, digamos, sensatos. E a insensatez reinante domina as atitudes e, somada à ingenuidade desse consumidor, temos pessoas comprando muito mais do que o necessário, pesquisando pouco, e muitas vezes pagando caro por produtos que, se houvesse uma pesquisa no próprio bairro onde a pessoa reside, certamente gastaria menos.

E essa postura não separa homens, nem mulheres, jovens ou adultos. Na pressa ou na falta de cuidado, vamos cometendo erros primários, e assumindo compromissos que poderiam ser adiados, ou melhor pensados, pesquisados ou decididos em outros momentos. E quando o resultado nos conclama a pensar, temos a insatisfação de constatar que erramos por ingenuidade, pressa, descuido ou até mesmo por omissão.

O grave de tudo isso é que, muitas vezes, o autor do erro vê o seu orçamento seriamente comprometido, e a dívida "sem juros", conforme redundantemente anunciado, vira uma bola de neve jamais imaginada, que foge ao controle de qualquer um.

É antigo o ditado de que precaução e canja de galinha não fazem mal a ninguém. O grande problema é que, em uma sociedade que tem pressa, com a agitação que nos domina, vamos nos acostumando à comida rápida, o tal fast food, e já não vivemos o tempo da canja, principalmente de galinha. A falta de tempo nos empurra a todo instante, e além de maus consumidores, já não damos muita atenção ao que comemos. E caminhamos todos para a indigestão alimentar e financeira.



*Vitor Sapienza é deputado estadual (PPS), presidente da Comissão de Ciência, Tecnologia e Informação, ex-presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo, economista e agente fiscal de rendas aposentado.

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