Opinião - O uso inteligente da palha da cana-de-açúcar


14/01/2013 15:34 | Gilmaci Santos*

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Especialistas do mundo todo vêm buscando soluções sustentáveis para produzir energia. Na verdade, com o aumento populacional o que temos visto é uma busca alucinada por novas fontes de energia que poluam menos ou que reutilizem material que seria descartado. No Brasil, inúmeros centros de pesquisa têm estudado maneiras de aproveitar melhor a palha da cana-de-açúcar, já que com o aumento da mecanização da colheita da cana, bem como a diminuição da prática de queima prévia da palha nos canaviais por conta de protocolos ambientais estabelecidos entre usineiros e o governo, houve também o aumento de quantidade de palha no campo.

Por causa da importância do tema, em 2007 apresentei aqui na Assembleia Legislativa de São Paulo o Projeto de Lei 573, que institui o Programa de Aproveitamento da Palha da Cana-de-Açúcar. Isso porque acredito, por meio do conhecimento de diversos projetos, que a técnica tem alto potencial para minimizar problemas ambientais e, além disso, estimular a geração de empregos, o aprimoramento da mão de obra e o incentivo aos investimentos tecnológicos no setor.

O PL apresentado foi embasado na técnica criada pelo agrônomo e professor aposentado José Luiz Guimarães de Souza, em conjunto com o economista José Abílio Silveira Cosentino e o artesão Marcelo Ferreira Desidério. Geralmente queimada, a palha da cana costuma ser descartada no processo de obtenção do álcool combustível.

No Brasil, o assunto tem sido pauta de trabalhos e encontros como o Fórum Internacional pelo Desenvolvimento Sustentável promovido em 2011, onde especialistas de diversos setores promoveram um debate amplo de importantes questões socioambientais do país. A quarta edição do Sustentar 2011 teve como lema "Sustentabilidade na prática: tendências globais, inovação, oportunidades e educação". Durante o fórum, o gerente de bioeletricidade da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), Zilmar de Souza, falou sobre a energia elétrica da cana.

O material já vem sendo considerado produto nobre no Sertão, por lá a seca fez estragos que provocaram a queda na produção de cana-de-açúcar, por isso os produtores locais tiveram que encontrar um novo jeito de lucrar. Agora o bagaço da cana-de-açúcar é comercializado no Sertão como fonte de alimentação para os animais. Tudo indica que esse mercado tende a crescer, pois o bagaço pode ser transformado em alimentação de animais.

O Brasil é hoje o segundo maior produtor mundial de etanol, atrás apenas dos Estados Unidos. Mas por aqui pouco ainda é utilizado desse produto, já que o país produz combustível, em sua maioria, apenas com a cana-de-açúcar, deixando de lado a palha e o bagaço da cana. O etanol feito com os resíduos da cana, chamado de etanol de segunda geração (2G), é produzido apenas em laboratórios e centros de pesquisa, mas, segundo especialistas, esse método ainda será incorporado pelas indústrias e dentro de cinco anos o Brasil será um grande produtor desse tipo de etanol.

Só com esse pequeno resumo sobre a importância desse produto é possível verificar o quanto a palha será útil na produção de energia e ração para animais. Mas em São Paulo isso seria interessante? Sim, e muito, para ter uma ideia da importância de um Programa de Aproveitamento da Palha da Cana-de-Açúcar no Estado de São Paulo, segundo a Secretaria Estadual de Energia, nosso Estado é considerado o maior produtor nacional de etanol. Além disso, São Paulo possui enorme potencial de conversão de resíduos dessa indústria em energia elétrica, gás e vapor.

Exatamente pela grandeza de nosso Estado seria fundamental iniciar o processo de reutilização da palha e do bagaço aqui. O projeto que apresentei, assim como outros, objetiva sair à frente e lançar um programa que priorize a energia limpa e a reutilização de material que iria para o lixo. São Paulo precisa de programas como esse para estruturar seu crescimento e preparar nosso território para as futuras gerações. Mas, infelizmente, o projeto que apresentei aguarda ser votado em plenário desde 25/4/2008.

Espero que em 2013 esse PL venha tornar-se lei em nosso Estado para que possamos, finalmente, avançar rumo a uma energia mais limpa. Estamos vivendo uma mudança de paradigmas no mundo todo e precisamos acompanhar essas transformações.



*Gilmaci Santos é deputado estadual pelo PRB e líder da bancada na Assembleia.

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