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Opinião: Natal de hoje, não o Natal de sempre

"O espírito natalino deu lugar ao consumismo desenfreado"
23/01/2013 20:25 | Vitor Sapienza*

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Mesmo antes de se passarem as festas de fim de ano, a imprensa mostrou o estado de abandono de alguns municípios cujos administradores não conseguiram resolver o problema da coleta de lixo, e o quadro resultante disso foi um mar de sujeira invadindo ruas e avenidas. Passadas as festas, constatou-se que, além do agravamento do problema, ficou nítida a nossa postura em produzir lixo em excesso, algo corriqueiro na sociedade moderna.

Não bastasse o risco que isso acarreta, temos que citar dois problemas que cabe ao Poder Central resolver. O primeiro, a maior participação dos municípios na distribuição do que é arrecadado. Isso permitiria mais recursos para que os prefeitos possam trabalhar em benefício de suas cidades.

O outro problema é a nossa capacidade de produzir detritos, em um processo inversamente proporcional ao que é reciclado. A isso, creio, caberá também uma legislação federal mais adequada aos padrões atingidos por nossa sociedade. Sobre isso, somos obrigados a retornar a um passado já distante, e analisarmos o que era o nosso Natal, e consequentemente as festas de final do ano, com o que temos hoje.

As festas de final de ano são a grande alavanca do comércio, como um todo; em todos os aspectos, da importação de produtos, ao incentivo ao turismo; do incremento do setor de brindes e presentes, ao consumo de bebidas; do setor de restaurantes e lazer, ao setor automobilístico. A sociedade se mobiliza, e mesmo as pessoas pouco ou nada afeitas ao consumismo acabam se deixando levar. E o apelo publicitário é amplo, poderoso, eficaz.

O espírito natalino deu lugar ao consumismo desenfreado; a figura do velhinho de barbas brancas aos poucos vai dando lugar ao comércio cibernético; o velho hábito do envio de um cartão de Natal deu lugar às mensagens cifradas, frias, rápidas e abreviadas da internet.

A violência, o distanciamento entre as pessoas, as famílias reduzidas, a privacidade dos apartamentos e dos condomínios deu lugar a pessoas distantes entre si, apegadas à comunicação eletrônica, cada dia mais adeptas do anonimato. A visita aos vizinhos é coisa do passado, afinal geralmente eles nem se conhecem, ou apenas se encontram na discussão das reuniões de condomínio. O encontro familiar vai ficando restrito, artificial, sem a afinidade de outros tempos.

As casas, antes abertas aos amigos, aos vizinhos, são bastiões cercados por grades, monitoradas por olhos eletrônicos, autênticos monumentos consagrados à solidão; e o mosaico se completa com os passeios virtuais e o consumo desenfreado. E o resultado fica nítido quando expõe o seu lado mais sarcástico: o acentuado aumento do lixo, que depositado nas calçadas, invade ruas e avenidas.

E a sociedade tenta justificar o caos, dizendo que ficou refém de alguns coletores, se esquecendo de que talvez eles ainda não tenham recebido os seus salários, o que lhes dá o direito de se recusar a retirar o que nivela essa mesma sociedade: o lixo que ela produz.



*Vitor Sapienza é deputado estadual (PPS), presidente da Comissão de Ciência, Tecnologia e Informação, ex-presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo, economista e agente fiscal de rendas aposentado. Acesse: www.vitorsapienza.com.br

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