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Opinião - Liberdade Desassistida

"O conceito de autoridade e respeito vai mudando, alterando costumes, mostrando fatos e hábitos que agridem a nossa maneira de pensar."
18/02/2013 15:10 | Vitor Sapienza*

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A jovem usou parte das economias da família e foi a um país sulamericano aprimorar os seus conhecimentos em espanhol. Dias depois, foi convidada a integrar um grupo que faria um acampamento numa região afastada da cidade. Toda animada, ela se preparou e, no dia marcado, compareceram dois senhores, dirigindo um carro importado. Ela acreditava que seriam os coordenadores do evento, e que se juntariam a outras pessoas. Ledo engano, porque na verdade o grupo já estava formado.

Ela, com uns 16 anos, e dois adultos, com idade próxima dos 50 anos cada um. Ficaram três dias acampados, e na volta, a jovem era toda entusiasmo. Falava aos quatro ventos que havia encontrado o seu "príncipe encantado". Em uma conversa pela Internet, ela confessava a uma amiga que o tal sujeito "pagou todas as suas despesas", e que jantares e novos encontros já estavam marcados, "tudo por conta dele".

Advertida por uma amiga mais cuidadosa, a jovem jogava por terra todos os argumentos contrários. Nos dias seguintes ocorreram novos convites, todos aceitos. Pelo telefone ela chegou a convencer a mãe de que faltaria à aula para um novo passeio, dizendo que o tal "príncipe" levaria a sua família, e que seria tratada como autêntica filha do tal sujeito. E a mãe, infelizmente acreditou.

A história é real, aconteceu na última semana e já não sei os seus desdobramentos. Sei apenas que o fato vai deixar muitos pais e mães com os cabelos arrepiados, principalmente aqueles que acreditam na responsabilidade dos filhos e filhas que mandam ao exterior, tanto para turismo, como para estudos. É normal que pais e mães sejam iguais, defendendo com unhas e dentes os filhos e filhas. O anormal é acreditar sempre na informação que nos chega. E aí está o perigo.

Sou de um tempo antigo, em que era um privilégio conseguir uma viagem de férias em casa de um parente distante, sempre vigiados pela presença de adultos acostumados a exigir o máximo, mesmo quando o mínimo já era muito acima do nosso potencial. Mas, hoje, os tempos são outros.

O fácil acesso à informação e o uso de tecnologias de ponta fizeram dos nossos jovens pessoas de mente mais abertas, passos mais acelerados e visão muito mais ampla do que a nossa, quando tínhamos a mesma idade. Os conceitos de liberdade se modificaram, os limites se estenderam e o conceito de autoridade e respeito vai mudando, alterando costumes, mostrando fatos e hábitos que agridem a nossa maneira de pensar.

Talvez a abertura do texto possa ter chocado as pessoas que acreditamos e classificamos como de bom senso. Mas seria desonesto de nossa parte deixar de registrar o fato, embora nos reserve o direito de omitir o nome da cidade do ocorrido. Fica apenas a advertência aos que acreditam que, apesar da infinita quantidade de informações que têm a seu dispor, os nossos jovens tenham o discernimento para se livrarem de todas as tentações.

E aí, mais do que a nossa opinião de pai e homem público, fica a certeza de que a vigilância tem que ser contínua, sempre alicerçada no hábito da conversa franca, e sempre temperada com a dose exata de desconfiança.



*Vitor Sapienza é deputado estadual (PPS), presidente da Comissão de Ciência, Tecnologia e Informação, ex-presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo, economista e agente fiscal de rendas aposentado.

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