Opinião - Marias brasileiras

A baixa participação das mulheres em espaços de poder está relacionada ao nosso limitado acesso à esfera pública
11/03/2013 18:08 | Regina Gonçalves*

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Durante boa parte da história do Brasil República, as mulheres foram excluídas de qualquer participação na política e somente após muitos anos de reivindicações conquistamos o direito de votar e de nos eleger para cargos nos executivos e legislativos do país. Caminhamos muito até que o modelo aceito e conhecido por todos deixou de ser sinônimo de felicidade para nós. A partir da década de 1970, iniciamos por opção ou por necessidade a busca pela independência moral e financeira.

O período entre 2000 e 2010 foi decisivo para a transformação do mercado de trabalho na vida da mulher. Nesse período, a maternidade deu lugar à especialização e à busca pelo conhecimento; e a maior demanda por trabalhadores em tempos de aquecimento da economia também foi decisiva para o aumento de 24% da inserção de mulheres no mercado. Hoje, dados apontam que o crescimento da participação das mulheres no trabalho e geração de renda é quase sete vezes maior que o dos homens. Conquistamos, finalmente, o avanço que as gerações anteriores tanto sonharam.

Na política, no início desta década, as mulheres ficaram com 12,9% das cadeiras nas assembleias legislativas, com 8,5% das vagas na Câmara dos Deputados, 9,8% no Senado e 7,4% dos governos estaduais. Essa baixa participação em espaços de poder está relacionada ao nosso limitado acesso à esfera pública, além de fatores culturais que corroboram com essa premissa, como a cultura de divisão de gêneros do trabalho, o não compartilhamento das tarefas domésticas e o preconceito de gêneros.

Apesar disso, ainda nos deparamos com salários baixos, com a violência e a jornada excessiva de trabalho. E continuamos a receber salários inferiores aos dos homens. Para as mulheres, a atividade profissional tornou-se tão importante quanto as voltadas ao lar e aos filhos. Um terço é arrimo de família; no entanto, o último censo mostra que o rendimento médio mensal dos homens foi de R$ 1.392, ao passo que o das mulheres foi de R$ 983, cerca de 30% inferior.

Dados de um estudo do Dieese feito para o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, publicado em 2010, indicam que, na região, o contingente de trabalhadoras somava 13,7 mil, ou seja, 14,1% do total de metalúrgicos das cidades de São Bernardo do Campo, Diadema, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra.

As trabalhadoras metalúrgicas do ABC ocupam as mais diferentes posições dentro da empresa e já são mais escolarizadas do que os homens. Apesar disso, na indústria, por exemplo, as mulheres recebem em média 30% menos que os homens.

Sem dúvida, aumentamos a nossa participação em todos os campos do conhecimento humano, ampliamos nosso horizonte em múltiplas oportunidades. Provamos a nossa competência e habilidade, mas há muitos obstáculos que precisam ser ultrapassados e muito que fazer em políticas de promoção da igualdade, de isonomia salarial e do respeito a todas nós.



*Regina Gonçalves é deputada estadual e líder do PV na Assembleia Legislativa.

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