Metrô 24 horas é tema de debate na Assembleia


21/03/2013 16:40 | Da redação - Foto: José Antonio Teixeira

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Os deputados Leci Brandão (PCdoB) e Luiz Claudio Marcolino (PT) promoveram nesta quarta-feira, 20/3, audiência para discutir a viabilidade do funcionamento do metrô 24 horas por dia. O encontro contou com a participação da população de diversos bairros, como o Jardim Ângela, que luta pela extensão dos trilhos urbanos até o bairro. Também participaram sindicalistas e técnicos, que destacaram a necessidade e a viabilidade do serviço.



Para já



Ciente das implicações técnicas de sua proposta, Marcolino apresentou, além de seu PL para um metrô 24 horas, uma indicação ao governo para que, enquanto isso não seja possível, que a Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos (EMTU) disponibilize linhas que cubram o trajeto dos trens.

Leci Brandão, autora de uma proposta mais exequível, já que o Metrô funcionaria 24 horas somente nos finais de semana, lembrou que isso já acontece uma vez por ano, durante a Virada Cultural. Outro ponto positivo destacado pela parlamentar seria um maior cumprimento da Lei Seca. "Que não me queiram mal os taxistas, mas quem anda de táxi é quem pode. O povo anda de metrô."



Dificuldades técnicas



Se depender do gerente de manutenção do Metrô de São Paulo, Milton Joia, os trens urbanos da quarta maior metrópole do mundo nunca funcionarão 24 horas. Segundo ele, o intervalo de paralisação total do sistema, de 3 horas e 30 minutos, é equivalente aos melhores sistemas metroviários do mundo: Tóquio e Seul. Conforme Joia, o único metrô 24 horas do mundo é o de Nova York, cuja rede permite o transporte dos passageiros aos principais destinos mesmo com o desligamento parcial de trechos para a manutenção.

A exposição de Milton Joia foi precedida de intervenção do deputado Fernando Capez (PSDB), que afirmou ter participado de audiência na Secretaria Estadual de Transportes Metropolitanos com o mesmo intuito manifestado por Leci Brandão e Luiz Claudio Marcolino, em 2011, por meio dos projetos de Lei 379 e 621. Capez disse ter ouvido do presidente do Metrô, engenheiro eletricista Peter Walker, a seguinte proposta: "Podemos fazer o Metrô circular 24 horas por dia, desde que o senhor assuma conosco a responsabilidade pelos acidentes que certamente irão acontecer".

A exposição dos técnicos tem como base o fato de que alguns serviços de manutenção somente podem ser feitos quando a linha não está energizada. É na madrugada que 1.500 funcionários fazem a vistoria e substituição de trilhos (quando gastos ou trincados) e a manutenção dos sistemas elétrico e de controle, entre outros serviços indispensáveis. Capez apoiou a argumentação do sindicalista Onofre Gonçalves, segundo o qual "é preciso criar condições para que esse serviço possa ser prestado ininterruptamente".



De sexta a domingo

O metroviário Onofre Gonçalves de Jesus, presidente da Confederação dos Trabalhadores do Brasil, depois de elogiar a iniciativa de Leci e de Marcolino de abrir o diálogo com a sociedade sobre o tema, falou de sua experiência na companhia. Segundo ele, é fato a intensidade dos trabalhos de manutenção no sistema, mas, "a manutenção realizada nos fins de semana é muito leve, e poderia esperar até segunda-feira". Ou seja, para o experiente funcionário, a proposta de Leci Brandão (PL 379/2011) é imediatamente exequível. Já para o PL 621/2011, o sindicalista aponta que, se não há condições de implantação, deveria haver, já que o metrô da Cidade do México tem a mesma idade do metrô de São Paulo, e conta com mais de 300 quilômetros de linhas, enquanto o governo paulista finalizou apenas 70 quilômetros de um projeto original de mais de 400.

O presidente do Sindicato dos Metroviários, Ciro Moraes, também afirmou que a oferta de transporte 24 horas dependeria de linhas alternativas, que permitissem a manutenção periódica de trechos sem a paralisação de todo o sistema, o que está muito longe da realidade paulista. "O Metrô de São Paulo é o mais lotado do mundo", afirmou.

Quanto à possibilidade de se reduzir o tempo de manutenção, o sindicalista lembrou que a concessionária da Linha Amarela adquiriu tecnologia para adotar trens sem condutores, eliminando empregos. "O desenvolvimento de tecnologias só acontece quando é conveniente", lamentou.



Alternativa sobre pneus



O dirigente da Federação Estadual dos Trabalhadores em Transportes e Trânsito da CUT, Luiz Antônio Queiroz, e o deputado Alcides Amazonas (PCdoB), com origem política no Sindicato dos Condutores, ressaltaram que a mobilidade urbana deve ser vista como um todo, com a integração de modais. Segundo Amazonas, a inexistência de transporte público durante a madrugada, exceto táxis, faz da cidade um espaço menos democrático. Para Queiroz, os "caminhões com carroceria de ônibus" que circulam em São Paulo, juntamente com o Metrô, formam o "transporte público mais caro do mundo". Isso porque não são cumpridos os quesitos de conforto, velocidade e pontualidade, tanto em trilhos quanto sobre pneus.

Após a apresentação dos deputados e sindicalistas, a palavra foi aberta para os participantes. Participaram ainda a representante do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região, Giovanna Moreira Leite, e o deputado Antonio Mentor (PT). No evento também foi apresentada uma petição virtual para o Metrô 24 horas com 90.368 assinaturas online.

alesp