Opinião: Incompetência, arrogância e irresponsabilidade

O bônus policial inaugura no Brasil, com séculos de atraso, o que vemos nos filmes de faroeste: recompensa pela captura de bandido
03/06/2013 14:56 | Geraldo Cruz*

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O governador Geraldo Alckmin seria um excelente gerente de produção " aquele que tem como tarefa conferir o número de peças produzidas, e pagar aos trabalhadores, em geral de maneira injusta, pela quantidade apresentada. Este modo de produção, muito utilizado nos casos de trabalho em condições análogas à escravidão, certamente garante lucro ao patrão, mas atenta contra a dignidade dos empregados.

E é justamente esta lógica que Alckmin apresenta como solução para a trágica situação da segurança pública de São Paulo. Acredita o governador que a promessa de premiar financeiramente os policiais é suficiente para garantir segurança à população.

Incrivelmente, a política do bônus, tão criticada quanto ineficaz na educação, foi replicada na segurança. Estudiosos e gestores da área apontaram o óbvio, que qualquer leigo " exceto o governador " percebe: a medida servirá apenas para estimular a fraude dos dados e desqualificar ainda mais os profissionais.

Para além de ineficaz, o tal "megapacote de segurança" demonstra cinismo e falta de respeito profissional ao reconhecer que os salários dos policiais são baixos, e não avança na valorização da carreira com propostas de aumento de vencimento, condições de trabalho e plano de cargos.

Ao contrário, precariza ainda mais ao reduzir o período de formação dos policiais. Desde o ano passado temos apontado falhas no processo de formação, sobretudo no que se refere à reduzida carga horária destinada a temas de direitos humanos. O conjunto de medidas retira totalmente a responsabilidade do Estado, transferindo-a para os policiais, que são humilhados pela insinuação de fazerem "corpo mole", bastando um dinheirinho a mais para estimulá-los a cumprir sua função. Inaugura no Brasil, com séculos de atraso, o que vemos nos filmes de faroeste: recompensa pela captura de bandido.

Ao anunciar o "pacote de medidas" de combate à violência, o governador também culpou o governo federal pela caótica situação do Estado e o Estatuto da Criança e do Adolescente. Antes, culpava as estatísticas e o excesso de habitantes no Estado. Entre a incompetência, a arrogância e a irresponsabilidade, agora o governo estadual estimula a violência policial, ao estabelecer concorrência entre os profissionais, aumentando ainda mais a insegurança da população.

Surpreende também que o governador busque os holofotes da imprensa para anunciar o bônus, sem que se saiba quais são os critérios para o pagamento. Ouvir a sociedade civil não significa contratar uma ONG para realizar a tarefa. Temos insistido na necessidade de reunir organizações de segurança pública e dos direitos humanos para formular e acompanhar as ações públicas. É evidente que o atual governador, herdeiro e representante da incompetência do PSDB, que há 20 anos administra o São Paulo, desconsidera conhecimentos e práticas elementares de um administrador público.

Neste caso em particular, tendo em vista que os índices demonstram ser a juventude o segmento mais vulnerável à violência, propomos a implementação de ações afirmativas para este segmento, considerando ainda as especificidades econômico-sociais, etnicorraciais e de gênero.

Apresentamos nossa proposta sobre o tema por meio do Projeto de Lei 304/2013, que estabelece ações de governo no campo da geração de trabalho e renda, educação, saúde, cultura, esporte e lazer. Sempre considerando a necessidade de destinar mais recursos para aqueles que têm menos condições de conquistar autonomia para o exercício de sua cidadania.

*Geraldo Cruz é deputado estadual pelo PT

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