Opinião - Preocupações nas ruas


24/07/2013 13:40 | Vitor Sapienza*

Compartilhar:


Sabemos que o assunto foi de relevância para a nossa história, mas temos que deixar de admitir que ele saiu das páginas dos jornais e derivou para o nosso pequeno arquivo de boas recordações. Embora não estivéssemos nas ruas, acompanhando os milhares de manifestantes que se mobilizaram em todo o país, temos que destacar a importância do todo, apesar das inúmeras atitudes violentas, praticadas por pequenos grupos de vândalos e, em alguns casos, verdadeiros bandidos que tentavam se misturar com as pessoas bem-intencionadas.

A repercussão foi muito acima do esperado, tanto no Brasil como em muitas outras nações e, internamente, fez com que boa parte de nossas autoridades começasse a se mexer, principalmente o poder central. Apesar disso, depois de algumas entrevistas coletivas e manifestações isoladas, a presidenta Dilma adotou a prática de colocar panos quentes em um assunto nada refrescante para o seu governo. E ela, certamente orientada por sua equipe, veio com a ideia da realização de um plebiscito.

É evidente que a reivindicação inicial era apenas um pano de fundo e, embora atendidos na redução das passagens de ônibus, os manifestantes de todo o país mostraram para a classe política que, pintadas de todas as cores, a ruas retratavam uma série de contrariedades, tais como as carências na saúde pública, educação, transporte, saneamento; a revolta contra a impunidade e contra a crescente violência, os altos custos de uma Copa do Mundo de futebol. No entanto, em que pese a tentativa de uma resposta imediata, o governo ignorou que, em momento algum, em lugar algum do país, alguém saiu às ruas com uma simples placa pedindo plebiscito.

A ideia lançada a partir de Brasília tenta mostrar que a simples consulta popular irá resolver todos os problemas, como num passe de mágica. E é exatamente aí que repete o erro mais importante, quando, confiando em um novo golpe de sorte, vira as costas para as ruas e vai empurrando com a barriga as decisões tão sonhadas pelo povo.

O primeiro golpe de sorte aconteceu num domingo ensolarado, em pleno Maracanã, quando a seleção brasileira conquistou a Copa das Confederações. A vitória tirou o foco das atenções, desviou o olhar de uma grande parcela da população, apesar das manifestações nos arredores dos estádios. Apenas não sabemos por quanto tempo irá durar essa dormência, essa letargia, até que a população retorne às ruas, inconformada por não ver atendidas as suas reivindicações.

E é aí que mora o perigo, mas parece que apenas o governo não sabe, não tem consciência disso. E se isso acontecer, teremos que torcer muito para que tenhamos um novo golpe de sorte, de tal amplitude para que todos sejam beneficiados. Será a grande oportunidade de o governo Dilma mostrar o proveito que tirou, comprovando o velho ditado : "quem não aprende com a história está condenado a repeti-la".

Vitor Sapienza é deputado estadual (PPS), ex-presidente da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, economista e agente fiscal de rendas aposentado. Acesse: www.vitorsapienza.com.br

alesp