Opinião: Os desafios da Lei de Cotas

No Brasil apenas 300 mil pessoas com deficiência estão registradas em empregos formais, com carteira assinada
05/08/2013 16:21 | Célia Leão *

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A Lei 8213, de 24 de julho de 1991, conhecida como a Lei de Cotas, criada com o objetivo de mudar o cenário de empregabilidade para pessoas com deficiência, acaba de completar 22 anos de existência. Neste período a aplicação da lei tem sido um dos maiores desafios da inclusão, tanto para patrões como para empregados, ora por ser ignorada e desrespeitada, ora por se tornar quase impossível a sua aplicação no mercado de trabalho.

A lei determina que empresas com mais de 100 funcionários são obrigadas a ter em seus quadros de 2 a 5% de trabalhadores com algum tipo de deficiência. Apesar de o Brasil ter mais de 45 milhões de pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida, apenas 25% das vagas destinadas a esse público no mercado de trabalho são preenchidas.

Um levantamento feito pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) revelou que mais de 1,2 milhão de pessoas nestas condições deveriam estar devidamente empregadas. Entretanto, de acordo com o órgão federal, no Brasil apenas 300 mil pessoas com deficiência estão registradas em empregos formais, com carteira assinada.

Essa lacuna ocorre, principalmente, em decorrência da falta de capacitação profissional dos postulantes aos cargos oferecidos, e também em razão de preconceito ainda enraizado em nossa sociedade, em relação a estas pessoas e pelos baixos salários oferecidos a estes trabalhadores.

Todavia, a lei existe e precisa ser cumprida. O Ministério do Trabalho, aliado ao Ministério Público, sindicatos e associações que defendem as pessoas com deficiência, têm agido de maneira firme nesta proposta. Somente em 2012 mais de 1.500 empresas foram fiscalizadas e autuadas por descumprimento da Lei de Cotas.

Para promover a verdadeira inclusão social é preciso, antes de tudo, valorizar o cidadão, explorar o seu potencial para o trabalho mesmo com as suas limitações físicas. Todos nós, sem distinção, temos capacidade para exercer alguma tarefa no mercado de trabalho. E a Lei de Cotas existe, justamente, para garantir que as oportunidades sejam acessíveis a todos.

O debate é antigo, o questionamento da eficácia da lei é constante, pois o tema inclusão não passa apenas pelos quesitos trabalho e renda. Ele é muito mais complexo, pois envolve uma série de fatores interligados. Acessibilidade nas ruas, em prédios públicos e privados, transporte digno e acessível, educação e capacitação profissional de qualidade, respeito às diferenças e a construção de políticas que promovam a verdadeira inclusão social.

Os desafios são os maiores possíveis e cumprir a lei é apenas uma das etapas neste processo de crescimento e construção de um futuro melhor para a nossa sociedade. Estamos ainda no limiar de um mundo novo, onde sejamos socialmente iguais, humanamente diferentes e totalmente livres. Com nossa luta, certamente, venceremos !

* Célia Leão é deputada estadual pelo PSDB

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