Opinião: Uma questão de escolha


07/08/2013 18:32 | Vitor Sapienza*

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Quando um assunto começa a ser repetido, criticado, na certa estão ocorrendo pelo menos dois fatos: ou as providências não foram ou não serão tomadas, ou quem está reclamando é uma pessoa idosa, dotada de pequena dose de paciência e, em outros casos, descrente para com o que assiste. Fiquemos com a segunda hipótese, a que soma idade com desilusão, e teremos um cidadão com inúmeros motivos para reclamar.

No nosso caso, o privilégio da vida parlamentar nos dá outros direitos, como apresentar soluções, sugestões, críticas que nem sempre chegam ao ponto que deveriam atingir, mas nem por isso abriremos mão do direito de reclamar, de apontar erros cometidos em nossa sociedade. O motivo de nossa crítica é bem simples: é imenso o número de jovens que perambulam pelas ruas, na maioria das vezes sem nada para fazer. E a justificativa é sempre a mesma: o Estatuto da Criança e do Adolescente não permite que eles trabalhem, antes de completar dezesseis anos.

Pouco importa quem foi o autor da ideia, embora fique nítido que o verdadeiro motivo era preservar o emprego das pessoas ainda em idade produtiva que, depois de passarem dos quarenta anos, eram consideradas "velhas" para o mercado de trabalho. Ao proteger esses trabalhadores, os autores do ECA atiraram no carrapato e mataram o cachorro, ou seja, impediram que na outra ponta da fila fossem abertas vagas para os mais jovens.

Somos de um tempo em que começávamos a trabalhar aos doze anos, mostrando com orgulho a nossa "carteira de Menor". Éramos incentivados a poupar, preparar o futuro, estudar, e o mais importante, ajudar os pais na manutenção da casa. Assim, inconformados com o que temos hoje, somos obrigados a remar contra a correnteza, e adotar a nossa postura de "idoso que adora reclamar". E o fazemos com orgulho.

Quantos de nós carregaram nas costas as velhas caixas de engraxar calçados, trabalharam fazendo carreto nas feiras livres, venderam produtos nas ruas, ajudaram os pais na manutenção de casa? Quantos iniciaram a vida profissional correndo contra o tempo pelas ruas, na difícil vida de office boy? Quantos jogaram fora as oportunidades para ajudar no ganha-pão da família? Quantos tiveram que trabalhar durante o dia e enfrentar a dureza de um curso noturno, em uma época sem as facilidades de um metrô?; ou em uma época de reduzido número de universidades?

E, por acaso esses batalhadores teriam ficado traumatizados por terem começado a trabalhar ainda jovens? Certamente que não, embora os nossos educadores contestem essa tese, alicerçados na ideia de que o jovem precisa estar nos bancos escolares. Mas quem garante que isso está acontecendo? Será que estando longe do trabalho, o jovem estará perto da escola? E entre as duas atividades, não devemos nos esquecer de que é sempre muito difícil resistir aos incessantes apelos de consumo. E destaque-se, "todo tipo" de consumo!

O que nos preocupa é o destaque. Sim, porque não podemos nos esquecer o que poderá acontecer com uma mente desocupada. Principalmente quando ela tem várias opções a seu dispor, sejam elas para o bem ou para o mal. Tudo é questão de escolha.

*Vitor Sapienza é deputado estadual (PPS), ex-presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo, economista e agente fiscal de rendas aposentado. Acesse: www.vitorsapienza.com.br

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