A greve dos bancários

"Apesar de os bancos terem obtido lucro líquido de R$ 29,6 bilhões, oferecem zero de aumento real de salário aos seus funcionários"
03/10/2013 16:42 | Marco Aurélio*

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Quando uma greve é deflagrada invariavelmente há uma queda de braço entre o empregador e a classe trabalhadora. Com cada uma das partes defendendo seus interesses, às vezes as reais razões da paralisação não chegam ao público em geral. No caso da greve dos bancários, vale saber a importância de suas reivindicações.

Entre os pontos defendidos pela categoria estão: 5% de aumento real (que somado à inflação, chega ao índice de 11,93%), melhoria da PLR (Participação nos Lucros e Resultados), fim das demissões em massa, reposição do quadro funcional, extinção das metas individuais abusivas e fim do assédio moral.

Apesar de os bancos terem arrecadado R$ 46,6 bilhões com tarifas, obtendo lucro líquido de R$ 29,6 bilhões, ou seja, mais de 15% do orçamento total do Estado de São Paulo, a Fenaban (Federação Nacional dos Bancos) oferece zero de aumento real de salário aos seus funcionários, propondo apenas o índice inflacionário de 6,1%.

Nas tarifas a serem cobradas dos clientes, busca-se o "valor de mercado", mas ao compor o salário daqueles que produzem a riqueza dos bancos, usa-se o "índice inflacionário".

Lembro quando o Brasil estava mal do ponto de vista econômico, como os trabalhadores eram chamados a "colaborar com o momento", aceitando índices ridículos de reajustes salariais. No entanto, quando a economia está aquecida, essa "colaboração" é esquecida, e vale apenas as regras do jogo: reposição da inflação.

É um sistema que socializa prejuízos e capitaliza lucros, fazendo crescer a espiral que faz os ricos ficarem cada vez mais ricos e os trabalhadores cada vez com menor poder aquisitivo. É fato que no Brasil a distância entre ricos e pobres, apesar de ainda ser grande, tem diminuído, graças às políticas do governo federal, mas a postura dos banqueiros diz: "em nada contribuímos para diminuir essa distância".

Na tevê, há emocionantes comerciais de bancos, dando a impressão de tratar-se de instituições que têm preocupação com o social. Saibam os bancos que o dinheiro gasto nessas peças de marketing não lhes pertence! São recursos financeiros fraudados dos seus trabalhadores.

Outro ponto defendido pelos grevistas é o fim do assédio moral. Talvez para o cliente que vai até uma agência fazer qualquer transação bancária não fique claro o porquê desse tema. Simples: o exorbitante lucro obtido pelos banqueiros é fruto de uma política massacrante a seus funcionários. Há uma constante cobrança para que os bancários empurrem pacotes e serviços para os clientes, na famigerada meta de trabalho.

Segundo o sindicato da categoria, no ano passado, 21.444 trabalhadores afastaram-se de suas atividades por doença. Desses, 25,7% foram por estresse, depressão, síndrome do pânico e transtornos mentais relacionados diretamente ao trabalho.

Só no primeiro semestre de 2013 foram extintos 1.957 postos de trabalho. Não à toa, o lema da campanha deste ano é "mais bancário, menos filas", unindo os anseios dos trabalhadores e dos clientes, que também querem um atendimento melhor.

É importante a sociedade estar ciente das razões da greve e, quiçá, até ajude a pressionar os banqueiros para que eles entendam que por trás do sistema financeiro existem pessoas, e o preço pago por elas para garantir lucro está alto demais.

Ao nos solidarizarmos com os que são explorados fortalecemos o sonho de uma sociedade justa e igualitária; pois hoje são os bancários, amanhã poderá ser outra categoria. Solidariedade e apoio são as armas pacíficas do povo brasileiro para lutar contra corporações capitalistas que ainda não entenderam que o Brasil mudou.

*Marco Aurélio é deputado estadual pelo PT.

alesp