Opinião - Problema antigo, de solução distante


24/10/2013 11:42 | Vitor Sapienza*

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Há alguns anos, recebi um cartão, confeccionado por um desenhista alemão, em que algumas pessoas, na proa de um barco, riam e apontavam para as outras que estavam na popa, onde um pequeno furo fazia verter água em todo o convés. No desenho, sem legenda, o autor apontava a alienação de uma parte dos passageiros que não tinham consciência de que o problema era de todos, não de uma parte de infelizes que estavam mais próximos do furo.

Estou citando o fato para associar com outro, recentemente ocorrido, durante uma das audiências públicas que venho participando em todas as regiões do Estado. Como parlamentar, vamos ouvindo a população e captando informações que serão vitais para a confecção do orçamento. Durante o encontro na Baixada Santista, muito foi falado sobre a importância do turismo, para a região, além de destacarem o intenso trabalho de embelezamento ocorrido na praia Santista.

Em que pese a importância do turismo para a região, temos que lembrar que o porto, a principal fonte arrecadadora de tributos, está sendo relegada a um segundo plano, e este é o grande erro; são forças que não devem ser separadas, porque, na verdade, se completam. Mas isso tem sido ignorado, não sabemos se premeditadamente, ou por desconhecimento do assunto. E quando citamos o fato, fica nítida aquela postura de que "o problema não é comigo...".

Quando recebe a produção de soja da região central do país, o porto de Santos mostra mais do que a sua importância. Mostra também que a estrutura está longe do ideal. Até chegar ao porto, a carreta transportando soja teve que enfrentar estradas, pedágios, buracos, insegurança, cansaço do condutor, custos com combustível, manutenção de veículo, e outros itens que, somados, vão deixar claro o elevado custo de operação do porto. E os consequentes danos nas rodovias, cujos reparos recaem naturalmente sobre quem recolhe os tributos.

Quando o excesso de caminhões parados nos arredores do porto provoca congestionamentos nas estradas, cresce o prejuízo que acaba dividido entre todos; quando o movimento sindical, que embora sem a força do passado, consegue paralisar as ações, repete-se o problema e a providência ideal fica distante porque novamente o sintoma se manifesta: "o problema não é comigo..."

Nos anos setenta, um grupo de empresários do ABC se mobilizou e realizou estudos para a implantação de um terminal de contêineres, no alto da serra, para o transporte até o porto, usando o sistema de contrapeso. O projeto não prosperou, mas deu indícios de que algo precisava ser feito com urgência. E a urgência se estendeu até os nossos dias: o porto precisa ser desassoreado, as estradas necessitam de constante manutenção com o intuito de resolver os problemas provocados pelo desgaste.

*Vitor Sapienza é deputado estadual (PPS), ex-presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo, economista e agente fiscal de rendas aposentado.

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