Opinião - Policlínicas


01/11/2013 10:30 | Telma de Souza*

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Principal marca dos governos do PT em Santos, as policlínicas voltam à cena a partir do reconhecimento de sua função social pelo governo local, do PSDB. As unidades de saúde receberão, novamente, o nome da época de sua criação, quando fui prefeita da cidade, a partir de uma ideia do médico e então secretário de Saúde David Capistrano. É louvável o reconhecimento, pois as policlínicas mantêm-se nos corações dos santistas. No entanto, é imprescindível que a qualidade do atendimento de outrora seja garantida, a partir deste resgate.

Lembro-me, com muita clareza, das palavras de David logo no início do governo: "É chegada a hora de iniciarmos a revolução na saúde, prefeita". De imediato, dei o aval, garantindo todo o respaldo. Em quatro anos - de 1989 a 1992 - elas se multiplicaram, chegando a 25 unidades. O novo sistema exigia um grande aporte orçamentário, mas era relativamente simples e muito bem planejado por um dos maiores especialistas em saúde pública que o país já teve.

As policlínicas ofereciam atendimentos básicos em clínica geral, gineco-obstetrícia, cardiologia e pediatria, distribuídos por todas as regiões da cidade. Informatizamos toda a rede pública de saúde, implantando o Sistema Hygia, o que possibilitou, por exemplo, o agendamento de consultas e exames por telefone, uma inovação para a época. Os usuários rapidamente abraçaram o novo serviço, entendendo que não era mais preciso lotar os prontos-socorros. O número de consultas e exames duplicou no primeiro ano, triplicando no ano seguinte.

Para complementar as policlínicas, criamos o PID/PAD - Programas de Internação e Atendimento Domiciliar, permitindo aos doentes crônicos ou com dificuldade de locomoção, conforme a necessidade, o conforto do atendimento em casa, o que, ao mesmo tempo, diminuía o risco de infecções e a ocupação de leitos hospitalares por longos períodos. Era crucial mantermos a qualidade das policlínicas, o que conseguimos, apesar das latentes dificuldades financeiras da época, com a escassez de transferências de receita e a instabilidade econômica do país, assolado por galopante inflação.

Referência internacional e embrião do atual Programa de Saúde da Família, o sistema santista foi baseado no modelo de Cuba, uma das mais respeitadas escolas de medicina do mundo, que anualmente forma milhares de novos médicos, incluindo estrangeiros. Esses profissionais, hoje, prestam serviços em pelo menos 70 países, incluindo o Brasil, onde recentemente desembarcaram para trabalhar no Programa Mais Médicos, do governo federal.

A extinção da nomenclatura "Policlínica", que foi substituída por "Unidade Básica de Saúde (UBS)" pelos governos que sucederam o PT na prefeitura, não se deu por um mero acaso: além do nome, elas já não possuíam as características e a excelência no atendimento, o que só fez reforçar o saudosismo da população em relação às policlínicas dos governos Telma de Souza e David Capistrano.

Porém, de nada adiantará se as policlínicas forem resgatadas apenas e tão somente no nome. É preciso trazer de volta, também, a estrutura de serviços, adequando-a à demanda atual, e o modelo de atendimento que, pioneiramente, implantamos em Santos.

Foi isso que fez com que as policlínicas permanecessem no coração das pessoas. Como responsável pela implantação do sistema, tendo David Capistrano ao meu lado, desejo que a prefeitura consiga voltar a desempenhar um trabalho de qualidade em saúde, à altura do que a população e as "Policlínicas" merecem.

*Telma de Souza, pedagoga, advogada, deputada estadual e ex-prefeita de Santos

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